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Translation - Portuguese Perspectivas para a zona euro
Stephanie Blankenburg, Lawrence King, Sue Konzelmann e Frank Wilkinson*
O euro, provavelmente mais que qualquer outra moeda, representa a confiança mútua presente no âmago da nossa comunidade. É a primeira moeda que não só quebrou a ligação ao ouro, mas também a ligação ao estado-nação. (Wim Duisenberg, Presidente do BCE em 2001, citado em Marsh, 2009, p.1)
A integração europeia não poderia ser bem-sucedida se prometesse tornar as regiões fortes mais fortes e as fracas mais fracas. (Magnifico, 1973, p. 8).
Para Wim Duisenberg, a percepção da independência do euro em relação ao estado-nação foi um feito pioneiro, digno de orgulho e valorização. Pouco mais de uma década mais tarde – e após três anos da mais profunda crise económica que a Europa conheceu desde a Grande Depressão – o entusiasmo de Duisenberg soa estranhamente anacrónico, pois o que o euro “sem nação” parece ter alcançado, acima de tudo, é a erosão de toda a “confiança mútua presente no âmago da nossa comunidade” que pudesse ter existido inicialmente.
Esta Edição Especial faz o balanço da crise do euro até agora. Ocupa-se da análise aprofundada das suas principais causas, propostas de políticas para recuperar da crise e estratégias de reforma para a reconstrução de uma zona euro que seja mais viável e igualitária no futuro. Esta Introdução apresenta uma visão geral quer dos aspectos fundamentais da crise quer de debates com ela relacionados, para além de contributos individuais para esta Edição Especial. A Secção 1 examina as origens da crise do euro; a Secção 2 faz a revisão das políticas mais importantes desenvolvidas durante a evolução da crise, desde o seu surgimento em Maio de 2010 até à adopção das Transacções Monetárias Definitivas (TMD) pelo Banco Central Europeu (BCE) em Setembro de 2012; e a Secção 3 apresenta um resumo dos contributos para esta Edição Especial.
1. Origens da crise
A construção da União Europeia (EU) – e o seu desenvolvimento desde a introdução de uma moeda comum em 2001 – teve objectivos quer políticos quer económicos. Esta secção concentra-se nestes últimos, mas tendo necessariamente em conta os primeiros.
Do ponto de vista da teoria económica ortodoxa, há poucas dúvidas de que a integração económica europeia deverá beneficiar os estados-membros. Aderir a uma união aduaneira – e subsequentemente também a uma união monetária, no caso de alguns estados-membros – restringe a autonomia das políticas nacionais e a sua capacidade de corrigir desequilíbrios macroeconómicos em relação a outros estados-membros e ao resto do mundo: sem controlo substancial sobre as políticas comerciais, cambiais ou monetárias, esses desequilíbrios só podem ser corrigidos através de ajustamentos no salário real e nos preços. No entanto, do ponto de vista da teoria económica ortodoxa, esta questão não é preocupante, dado que se pode assumir que os mercados dos factores essenciais de produção são flexíveis entre os países que fazem parte da união aduaneira (e monetária) e que os custos de ajustamento do processo de especialização e integração são pouco importantes. A distribuição dos ganhos totais da integração comercial e monetária poderá ser desigual, mas no todo haverá de facto ganhos.
Esta visão, baseada numa crença política e ideologicamente motivada na superioridade dos “mercados livres”, não resistiu ao tempo no caso da integração económica e monetária europeia.
A visão dominante nos países do núcleo do euro – e que dominam a tomada de decisões de política económica – é a de que a crise é orçamental por natureza, resultante do excesso financeiro dos países deficitários da periferia. Em consequência, uma vez que foi a sua irresponsabilidade que criou o problema, só poderá ser a sua aceitação do fardo do ajustamento a resolvê-lo. Para além disso, dado que o excesso de estímulo orçamental é considerado responsável pelas pressões inflacionárias e pelo crescente endividamento causado pelos défices que estão a destabilizar os mercados financeiros, a austeridade orçamental é advogada como receita apesar do aprofundamento da recessão. A condição essencial é encarada como sendo a do equilíbrio dos orçamentos e da redução da dívida soberana, de modo a reduzir os riscos de incumprimento.
A visão alternativa é a de que a crise é de excedentes da balança de pagamentos no núcleo e défices na periferia da zona euro. Nesta perspectiva, longe de constituir remédio para a crise, a austeridade orçamental, por combater o sintoma (desequilíbrio orçamental) e não a causa (desequilíbrio da balança de pagamentos) apenas poderá piorar a situação, ao impedir a recuperação económica e baixar as perspectivas de crescimento. Uma austeridade generalizada e que se vai aprofundando rapidamente é vista como estando a exacerbar o problema dos crescentes défices orçamentais e dívida soberana ao empurrar a zona euro ainda mais para a recessão, o que está a reduzir a procura efectiva, a encolher a base fiscal ao reduzir os rendimentos e a fazer aumentar as despesas com a segurança social e outras despesas relacionadas com a recessão.
A Comissão Europeia e o BCE parecem estar a interpretar o crescimento dos défices orçamentais e o incessante aumento do endividamento público como prova de insuficiente retracção orçamental; e continuam a manter-se fiéis à crença ortodoxa de que é necessária mais austeridade para restaurar a confiança dos mercados financeiros, de modo a assegurar a sua disponibilidade para investir em títulos soberanos a uma taxa de juro razoável. Assim, a evidência de que a austeridade não teve os efeitos previstos não enfraqueceu a crença dos seus defensores na eficácia desta abordagem ou a sua fé no seu sucesso último. Numa entrevista ao Wall Street Journal, o presidente do BCE, Mario Draghi, defendeu recentemente:
Não havia alternativa à consolidação orçamental, e não devemos negar que esta é contraccionista no curto prazo. No futuro haverá o chamado canal de confiança, que reactivará o crescimento; mas não é algo que aconteça imediatamente, e é por isso que as reformas estruturais são tão importantes, porque a contracção no curto prazo só será seguida por um crescimento sustentável no longo prazo se estas reformas tiverem sido feitas. (Blackstone et al., 2012)
Draghi seguiu com este argumento dizendo que uma consolidação “boa” é aquela em que os impostos são mais baixos e em que a redução da despesa pública é feita nas infra-estruturas e em outros investimentos … a má consolidação é … aumentar os impostos e reduzir a despesa de capital … [porque] diminui o crescimento potencial (Blackstone et al., 2012).
No entanto, é difícil manter, em face da evidência empírica, que a crise do euro é em primeiro lugar uma crise de gastos públicos excessivos na periferia. O que os estados-membros que se encontram hoje em dificuldade tinham em comum antes do despontar da crise é que todos – Grécia, Espanha, Portugal e Irlanda – tinham crescentes défices comerciais (ver, e.g., Wolf, 2011).
O que não tinham em comum era grandes défices do sector público, antes do início da crise financeira global (CFG). (ver, e.g., Cambridge Journal of Economics, 2009, Special Issue: The Global Financial Crisis, vol. 33, nº 4) e da crise do euro: embora Espanha e a Irlanda tivessem ambos grandes défices no sector privado, tinham excedentes orçamentais no sector público. Portugal e a Grécia financiaram os seus défices comerciais através de défices quer do sector privado quer do sector público, tendo a dívida líquida do sector público em Portugal sido mais baixa que na Alemanha em percentagem do seu produto interno bruto (PIB) até 2007. Apenas Itália tinha uma elevada dívida líquida do sector público (como percentagem do PIB), ao longo dos anos 2000 até 2009, financiado exclusivamente por entradas de capital (défices da balança corrente), enquanto o sector privado se manteve excedentário (ver, e.g., Hein et al., 2011). Os elevados défices públicos actuais em todas estas economias foram consequência da CFG, quando (com a excepção de Itália) muita da dívida privada tornada “má” foi de uma ou outra forma forma nacionalizada.
Os desequilíbrios nas trocas comerciais que surgiram nos anos 2000 entre a Alemanha (tal como a Áustria, a Bélgica e a Holanda), de um lado, e a Grécia, Itália, Espanha, Portugal e a Irlanda, de outro, foram sintomáticos quanto aos desequilíbrios estruturais e às crescentes dificuldades nos países periféricos para manter formas viáveis de alcançar competitividade internacional. Tal foi o caso, particularmente, do aumento da competitividade das manufacturas com origem nos mercados emergentes. No entanto, um importante factor que exacerbou esta perda de competitividade internacional foi a estratégia da Alemanha de “aumento de produtividade sem aumento de salários” dentro da zona euro. As fortes políticas de “controlo salarial” na Alemanha levaram à diminuição do custo unitário do trabalho. Juntamente com a capacidade da Alemanha, já de longa data, de manter a sua infra-estrutura de alta tecnologia, esta política serviu para debilitar a já reduzida vantagem competitiva pelos baixos salários dos seus parceiros comerciais do Sul da Europa (ver, e.g., Flassbeck e Spiecker, 2011). Posto de outra forma, a Alemanha reforçou a sua tradicional vantagem competitiva pela elevada produtividade através da competição baseada, em parte, em baixos e decrescentes custos unitários do trabalho, em lugar de utilizar a sua elevada produtividade para promover um nível de vida (colectivo) interno mais elevado e – através do aumento das importações e do investimento directo estrangeiro – no Sul da Europa.
No entanto, se a estratégia de crescimento da Alemanha baseada no aumento-de-produtividade-sem-aumento-de-salários-mais-exportações não levou em conta as dificuldades estruturais dos seus parceiros da UEM (sobretudo) do Sul da Europa, a actual crise financeira e – a final – política da zona euro remonta à arquitectura profundamente defeituosa da integração monetária e financeira europeia, explanada no Tratado de Maastricht de 1993 e no Tratado de Lisboa de 2007. Como quase todos os autores que contribuem para esta Edição Especial salientam, esta arquitectura aliou uma integração financeira não regulada do sector privado quer com a abolição da soberania monetária nos estados-membros da UEM, quer com uma estrutura de política orçamental supranacional laxista (ou “suave”) que promoveu políticas orçamentais restritivas a nível nacional, mas que não conseguiu estabelecer um roteiro institucional com vista a um processo de tomada de decisões de política económica a nível supranacional. Esta situação criou, principalmente – naquela que é, afinal, a segunda maior economia mundial (a UEM) – um sistema monetário supranacional que explicitamente dá prioridade aos detentores privados de dívida (credores) acima da dos estados. Na UEM, as “regras de jogo” formais da integração monetária e financeira são mais fortemente entravadoras da intervenção do estado e favorecedoras do domínio do sector privado que em qualquer outra economia avançada. No seguimento da CFG, isto não se limitou a levar a um “braço de ferro” destrutivo entre mercados financeiros privados, aumentando os custos dos empréstimos por parte dos governos nacionais na UEM, por um lado, e a “autoridade remanescente” da UEM central ainda subsistente para tentar mantê-los baixos, do outro. Colocou também uma enorme pressão sobre as relações políticas, quer entre os estados-nação que integram a UEM quer no seu interior, tal como foi se viu no resultado das eleições nacionais italianas em Fevereiro de 2013.
As graves falhas da estrutura institucional e de governação da UEM colocaram-na numa posição difícil para fazer efectivamente face à escalada dos desequilíbrios comercial e macroeconómico no seu seio e, ainda menos, ao seu crescimento sob o impacto da CFG. No entanto, apesar da sua posição inflamada quando da criação da UEM – bem como nos debates sobre a sua sobrevivência desde o início da crise – a teoria económica ortodoxa não oferece nenhuma explicação coerente para estes desequilíbrios regionais. É, por isso, um mau guia de política.
Em contraste, a teoria causal cumulativa – em particular como conceptualizada por Gunnar Myrdal na base da sua ampla investigação sobre a desigualdade (entre indivíduos e entre regiões) – oferece-nos um quadro útil para a compreensão da causa original das desigualdades regionais e dos processos cumulativos que aí operam. É assim um instrumento muito melhor que a ortodoxia económica na identificação da direcção mais apropriada para as políticas. De acordo com Myrdal (1957), as teorias económicas ortodoxas “nunca se desenvolveram no sentido de apreender a realidade das grandes e crescentes desigualdades económicas e dos processos dinâmicos do subdesenvolvimento e desenvolvimento” (p. 51) e não conseguem, assim, explicar a existência – e a persistência, se não aprofundamento – das desigualdades no interior e entre países. Na perspectiva de Myrdal, estas desigualdades são consequência dos efeitos “circulares e cumulativos” gerados pelo próprio processo económico. Para além disso, em sistemas de mercado, a natureza endógena e auto-impulsionadora das alterações económicas é tal que “o jogo de forças dentro do mercado tende a aumentar e não a diminuir as desigualdades” (Myrdal, 1958, p. 26).
Os elementos dinâmicos do comércio entre países desencadeiam aquilo que Myrdal identifica como efeitos de regressão e progressão e, desta forma, a possibilidade de desenvolvimento económico desigual. A regressão e a progressão são respectivamente os efeitos adversos e benéficos gerados fora de uma área em expansão económica como consequência de diferenças de oportunidade económica. Os efeitos de regressão incluem fenómenos como a emigração de trabalho qualificado de uma região com salários mais baixos (i.e., “fuga de cérebros”), fuga de capitais e dificuldades em atrair capital, trocas comerciais desiguais e desindustrialização; a transferência de produções de maior valor acrescentado para a região mais próspera e a concentração de produções de menor valor acrescentado na região menos próspera; e a deterioração das relações sociais e outros efeitos não-económicos. Estes fenómenos são circulares, cumulativos e auto-multiplicativos, e tendem a tornar-se dominantes numa situação de laisser faire.
No sentido contrário aos efeitos de regressão causados pela expansão económica, há efeitos centrífugos do impulso expansionista que se alargam a outras regiões. Os efeitos de progressão operam “através de uma maior procura pelos seus produtos e em muitos outros casos imiscuem-se no processo social cumulativo através de causalidade circular” (Myrdal, 1957, p. 31). O aumento de preços que daí resulta (incluindo os salários e o preço de outros factores) permite a outras regiões competir com base em custos de produção mais baixos, desencadeando um ciclo virtuoso de possibilidades de expansão. Operando no sentido contrário aos efeitos de regressão, os efeitos de progressão, quando suficientemente fortes, têm o potencial de gerar um impulso expansionista que serve de contrapeso dos efeitos de regressão. Porém, Myrdal observou que as fronteiras nacionais podem actuar como fortes barreiras aos efeitos de progressão:
Diferenças na legislação, administração e costumes em geral, de linguagem, de valores básicos e crenças, de nível de vida, capacidades de produção e infra-estruturas, tornam as fronteiras nacionais em barreiras muito mais eficazes à progressão do impulso expansionista do que quaisquer linhas de demarcação dentro de um país … Essencialmente, os fracos efeitos de progressão tal como existentes entre países são … um reflexo dos fracos efeitos de progressão no interior dos próprios países subdesenvolvidos, devido ao baixo nível de desenvolvimento que atingiram. Nestas circunstâncias, as forças de mercado tenderão cumulativamente a acentuar as desigualdades internacionais. (Myrdal, 1957, pp. 54-5)
Ao desenvolver os conceitos de efeitos de regressão e de progressão, Myrdal realçou os papéis quer dos factores económicos quer dos não-económicos, de entre os quais se destacam os efeitos sociais, políticos e distributivos. Para Myrdal (1957), os factores não-económicos “estão entre os veículos mais importantes para a circulação causal nos processos cumulativos de mudança económica” (p. 30) e reagem “de forma desequilibrada” (p. 10). Myrdal chamou também a atenção para a natureza dinâmica e de desequilíbrio da mudança económica.
Até ao início da CFG, os países do núcleo da zona euro beneficiaram claramente da moeda única. As suas exportações tornaram-se mais competitivas nos mercados mundiais, uma vez que o valor do euro contra as outras moedas era mais baixo que o valor das moedas nacionais que substituiu. Em percentagem do PIB, a média do excedente da balança corrente dos membros do núcleo da zona euro aumentou de 3,7% em 2000 para 4,7% em 2007 (Eurostat, 2013). Em contraste, as exportações dos países da periferia tornaram-se menos competitivas (em preço) e, em média, os seus défices das contas correntes aumentaram sustentadamente de 4,6% em 2000 para 8,5% em 2007 (Eurostat, 2013).
No núcleo da zona euro, a competitividade do comércio – quer internacionalmente quer dentro da Europa – teve efeitos auto-multiplicativos positivos na produção manufacturada, no emprego e níveis de rendimento, no investimento e alterações tecnológicas, nos níveis de produtividade e nas exportações. A Alemanha foi, em particular, beneficiada. As suas relações a nível de subcontratação com países a leste reforçaram-se, o que serviu para diminuir os seus custos de produção (Simonazzi, 2013), que se mantiveram baixos também por efeito da desregulação do mercado de trabalho na Alemanha, a qual pressionou os salários nominais em sentido negativo, sobretudo os mais baixos. Este efeito no nível de vida real foi ainda melhorado com a entrada no mercado de bens de consumo de baixo custo, vindos principalmente da China. O consumo na Alemanha, assim, cresceu lentamente em relação à capacidade de produção e a transferência deste excedente para o estrangeiro tornou a Alemanha no maior exportador mundial. Os efeitos de progressão implicaram uma maior integração da capacidade de produção dos membros da UE de Leste no sistema produtivo alemão, ao passo que a perda cumulativa de competitividade industrial dos países da periferia da zona euro se constituiu como efeito de regressão.
Contudo, apesar da sua crescente desvantagem competitiva no comércio internacional, muitos dos membros periféricos da zona euro parecem ter beneficiado da disponibilidade de crédito abundante e facilmente obtenível, a taxas próximas das dos países do núcleo. Uma vez que a zona euro prometia estabilidade e crescimento, para além da convergência dos rendimentos e do desempenho económico com os níveis existentes no núcleo, a entrada de capital privado aliou-se a níveis elevados de confiança para alimentar grandes e súbitos aumentos de consumo interno na periferia. A liberalização dos mercados financeiros suportou o crescimento através da procura ao mesmo tempo que o sector imobiliário experimentava uma expansão insustentável enquanto os preços nesses mercados disparavam, especialmente em Espanha e na Irlanda. Uma forte procura foi de par com subidas de preços e de custos, enfraquecendo ainda mais a competitividade comercial. O crescimento insustentável dos mercados de consumo, financeiro e imobiliário, no entanto – bem como as elevadas taxas de crescimento que o acompanharam – faziam aparentar prosperidade. Ao mesmo tempo, os governos conseguiam crédito a um custo relativamente baixo para financiar os crescentes gastos públicos, enquanto o aumento das receitas fiscais gerados pelo forte crescimento económico se traduzia na melhoria dos saldos orçamentais. O forte crescimento via procura interna daí resultante fazia assim aparentar robustez macroeconómica e orçamental em muitos dos países periféricos da zona euro, enquanto os países do Norte beneficiavam ainda mais da perda cumulativa de competitividade comercial na periferia.
A CFG interrompeu o fluxo transfronteiriço de financiamento privado, levando ao colapso do mercado imobiliário e de outras actividades do sector privado e ao crescimento dos défices orçamentais. Neste ponto, os riscos excessivos que tinham sido tomados pelas instituições financeiras (e a incapacidade dos governos na sua regulação), o excessivo consumo das famílias induzido pelo crédito e as deficiências competitivas foram cruelmente expostos, tal como os efeitos de regressão do influxo de capital nos mercados financeiros da periferia.
O problema da dívida do sector privado da zona euro transformou-se rapidamente numa crise de dívida soberana, enquanto os governos tentaram salvar os respectivos sistemas bancários através de empréstimos, garantias e nacionalizações. Os níveis elevados de dívida pública daí resultantes e a impossibilidade de os países da zona euro expandirem individualmente a oferta de moeda fizeram com que o risco de incumprimento fosse credível. A fuga de capitais da dívida soberana dos países com maior risco aumentou de forma alarmante o seu custo de refinanciamento, começando com a Grécia mas rapidamente seguido por Portugal, Itália, Irlanda e Espanha. A percepção desta necessidade de um plano de ajuda europeu baseado em austeridade traduziu-se em deflação orçamental adicional, no agravamento da crise económica e em instabilidade financeira, enquanto o ciclo vicioso continuava a seguir o seu curso. No decurso deste processo, os desequilíbrios regionais dentro da zona euro tornaram-se visíveis, aumentando substancialmente com o aprofundar da crise.
Os planos de austeridade estão a reforçar o ciclo vicioso de declínio cumulativo, estendendo-se da esfera económica para a esfera social e política. Por seu lado, os factores não-económicos estão a ter efeitos económicos circulares e cumulativos enquanto o mal-estar social cria instabilidade política. Entretanto, a desigualdade continua a aumentar, não apenas em países por toda a zona euro mas também no seio das suas regiões mais carenciadas. Tudo isto levanta questões de fundo sobre as teorias e a estrutura institucional na base da zona euro, ela própria baseada na crença na capacidade de os mercados gerarem um equilíbrio estável com resultados benéficos e equitativos para os seus tão diferentes membros.
2. O desenrolar da crise do euro: a resposta da política monetária e orçamental até ao momento
A 10 de Outubro de 2008, em pleno desenrolar da CFG, a jornalista do Financial Times Gillian Tett preveniu acerca dos perigos que esperavam a zona euro, tomando como pista o alargamento das diferenças nos custos de segurar a dívida soberana europeia:
O que o mercado de CDS está a sugerir é que os investidores estão mais preocupados com as implicações do resgate dos bancos e a tensão financeira. Para além disso, estas preocupações estão também a ameaçar minar o ideal da moeda única de que os países da zona euro se movem como grupo … Afinal, o que esta crise [a CFG] tem mostrado é que, chegado o momento-chave, os governos europeus são verdadeiramente incapazes de se coordenarem. Portanto, se levarmos essa tendência ao seu extremo lógico e imaginarmos uma recessão brutal – ou talvez tensão financeira adicional – não é difícil imaginar o surgimento do nacionalismo económico, do qual, afinal, estamos já a ver pistas no conflito entre o Reino Unido e a Islândia acerca dos depósitos da banca de retalho. Se essa escaramuça alguma vez se repetisse dentro da zona euro, a união monetária poderia ver-se sob pressão.
Apesar da sua cautela na altura – “este não é um cenário que esteja a antecipar com grande probabilidade. Mas não deve também ser completamente ignorado.” (Tett, 2008) – Tett acertou em cheio. Mesmo assim, o que é agora conhecido como a “crise do euro” não se estabeleceu oficialmente até Abril/Maio de 2010, quando a dívida soberana grega foi trazida às negociações com a Troika. Tal como mencionado, o que se seguiu nos dois anos e quatro meses seguintes foi um “braço de ferro” desestabilizador e contraproducente entre os mercados financeiros privados, levando ao aumento dos custos de refinanciamento da dívida soberana nos estados-membros da UEM assolados pela crise, por um lado, e a Troika, que tentava manter baixos esses custos, do outro. Uma trégua foi declarada finalmente a 6 de Setembro de 2012, quando Mario Draghi, Presidente do BCE, anunciou a introdução de TMD, reconhecendo dessa forma, na prática, o papel do BCE como emprestador de último recurso à UEM.
(...)
English to Portuguese: Iceland's elections: A shattered fairy tale General field: Other Detailed field: Government / Politics
Source text - English Iceland's elections: A shattered fairy tale
After the financial crash of 2008, Iceland refused to bail out its banks and overthrew its government. But five years on, has its flirtation with an alternative to austerity ended?
By Laurie Penny Published 08 May 2013 13:58
(http://www.newstatesman.com/politics/2013/05/icelands-elections-shattered-fairy-tale)
Iceland: The land where a third of the population believes in elves is leading the way in political and economic experiments. (Photo: Tom Nagy/Gallerystock)
I’m in a van with three pirates, and we’re pillaging snacks from all the major political parties in Iceland. It’s 27 April, election day in Reykjavík, and the months of campaigning are over. The parliamentary candidates of the Pirate Party have nothing to do except drive around the various party headquarters appropriating cake and crisps. They prefer to call it “challenging the antagonism of the current political climate”. By dropping in on rival parties. And taking their food.
“This is taxpayer-funded, so actually it’s already my food,” says Kristjan, a huge, jolly, bearded technologist who is running as a candidate in Reykjavík. He slips a choc ice into his pocket as we say goodbye to the centrist Progressive Party, with its impressive spread of smoked-tongue pavlova. Next, we’re off to see the Social Democrats, who may or may not have coffee. There are 15 parties running in what may be the oddest national election Europe has seen in decades, so we’re unlikely to go hungry.
Iceland is a little human crucible bubbling away in the middle of the north Atlantic, and an experiment in how to build and run a modern democracy. For most of the past 30 years, it embraced aggressive free-market capitalism. Then its banks failed, its population lost faith in conventional politics, and it began to be an experiment in something else entirely. Desperate people across the eurozone cling to the fairy tale of Iceland as a plucky country holding out against austerity – but Icelanders see things differently.
In this election, the main choice seems to be between the centre-right parties that led the country into economic disaster and the leftgreen coalition that failed to lead it out again. Now fringe parties and protest groups are appearing to fill the ideas vacuum. Of these newcomers, the Pirates – a disparate group of hackers, anarchists and digital rights campaigners – are by far the most interesting. Elsewhere in the world, internet activists such as the hacker Andrew “Weev” Auernheimer, the late Reddit co-founder Aaron Swartz and many others have been prosecuted and imprisoned for fighting for freedom of information, but these ones are about to get into parliament.
“I’ve been disillusioned with politics for a long time, and I didn’t really feel anything would change,” says Bjarni Einarsson, a Pirate Party candidate who has the thick glasses and wacky hairstyle of trendy geeks from here to Hackney. Einarsson, like almost everyone I meet, no longer believes in party politics.
So why is he running for parliament? “Because I believe in the issues,” he says, “and I know now that if we have just one or two people in parliament they can sponsor bills and propose changes, make improvements.”
The first thing you have to understand about Iceland is that it’s tiny. The population is just over 320,000, which is about the same as Reading’s, and two-thirds of them live in the capital, Reykjavík, which is about the size of Southend. Before the banking crisis, American investment, exploitation of natural resources and the expansion of the financial sector had transformed Iceland from one of the poorest nations in Europe to one of the richest in the space of 50 years. It’s small enough that the best way to meet and interview a member of parliament is to hang around in a trendy bar in downtown Reykjavík and wait for one to turn up at the next table. It’s small enough that this happened to me twice during a four-day trip. Oh, and about 0.3 per cent of Icelanders are personally running for parliament this year.
Iceland has always been a land self-authored in myth and legend. Its lava fields and glacial plains are supposedly populated by elves, trolls and huldufólk – hidden folk – in whom 80 per cent of the population believes. At least, that’s what the PR for Icelandair wants you to think, because that’s what’s written on the useless napkins handed out in economy class on the red-eye to Reykjavík. In fact, it turns out that only 30 per cent of the population believes that fairies exist, although that third is prepared to agitate for roads to be diverted around their supposed homes. This is remarkable enough that one wonders why the tourist board bothered to exaggerate.
The story of Iceland’s curious political situation is another folk tale that was already fascinating before it was blown out of all proportion. What most of the world appears to believe is that, some time between 2008 and 2009, the country refused to bail out its banks when the global economy crashed and that instead it jailed all of its bankers, overthrew the government, wrote a new constitution on the internet and elected a lesbian prime minister who solved all the nation’s problems with a flick of her magic wand. In this global era of enforced austerity, people want to believe this so much that they get angry when friends who live in Iceland disabuse them of the fantasy.
Johanna Sigurdardottir at her election in 2009. Photo: Getty
Here’s what actually happened. Although it is true that the three largest banks –Glitnir, Kaupthing and Landsbanki – were allowed to go bust in 2008, this was hardly a political choice: Iceland could do nothing else, because their debts were ten times the size of its GDP. It is also true that popular protest brought about a change in power. Demonstrations over the government’s handling of the crisis, particularly its promises to the IMF to repay the financial sector’s enormous debts to countries such as the UK and the Netherlands, started in 2008. On 20 January 2009, the usually reserved Icelandic people turned out on to the streets in their thousands, bashed kitchen utensils and threw fruit and yoghurt at the Althingi, the parliament building. They were demanding a change of government.
They got one. Referendums were promptly held on whether to repay foreign debts, and the state began to draw up a new constitution in consultations with the public that included garnering responses on Facebook. But then, the new administration tried to side with the IMF over the debts of the online bank Icesave and refused, in effect, to implement the constitution Icelanders had been promised. So much for the socialist utopia.
Nor are all the bankers in jail: at least one of them is running for parliament. Thrinn Guð - jónsson of the Dawn party, a small left-ofcentre splinter group, did “risk management at Icebank” before the financial crash. Guð - jónsson’s job “was actually to confirm that there was no risk to us, to the bank. In retrospect, I should have thought more about whether or not there was a risk to the nation,” he says. Standing as a political candidate for a tiny party with little hope of election seems, for Guðjónsson, to be a way of voicing his exasperation with his old way of thinking, which he has abandoned along with his old job: “Now I have a bed and breakfast and I grow organic vegetables.”
I meet him on election day, driving around with the Pirates trying to blag dinner. The Dawn party has given away almost all of its cake, so we head to the next party headquarters. There we meet Thorsteinn Magnusson, a candidate for the centrist Progressive Party, one of those likely to be back in government before the end of the day. The Progressives rely on the farming and fishing population for their support, and are glad now that their base has abandoned its brief dalliance with the centre left, even though that is as much a symptom of fear as anything else.
Instead of bailing out its leading banks, Iceland devalued the króna and instituted capital controls, and the economy did indeed contract: real wages dropped and unemployment went from 1.6 per cent before the crash to a peak of 9.3 per cent. But it has now come down to roughly 5 per cent and the economy is slowly growing again.
Where Iceland did break the rules, however, was in choosing to force the banks’ losses on to their creditors, including billions owed to Britain and the Netherlands. The IMF attempted to force Iceland to repay this debt, and the new, nominally left-wing government agreed. But the people of Iceland rejected any such deal.
The message that most of the country took away from this was that the parliamentary left, just like the parliamentary right, could not be trusted not to kowtow to the banks. The share of the vote for the left-green coalition that took over during the country’s supposed revolution has disintegrated. Half of Iceland now wants the old centre-right parties back in power, which, according to Anna Andersen of the English-language magazine Reykjavík Grapevine, is a purely nostalgic vote – like voting for the year 1997. The rest have their pick of the newer, smaller parties.
What Iceland is experiencing is a version in miniature of the democratic crisis that has been felt around the world in the years following the 2008 banking collapse. It is a sense that representative democracy is not working. But the Pirate Party is the only one running on the basis that the entire system is buggered. Its solution is a system of digitally facilitated “direct democracy”, which aims to replace representative, parliamentary demo - cracy with something fairer.
That’s part of the reason I’m following the Pirates around. Another reason is that one of its candidates happens to have offered me a mattress on his floor to sleep on, in a room that smells precisely as you’d expect the bedroom of a 29-year-old hacker who’s running for parliament to smell – a heady mix of pizza boxes, adrenaline and feet.
Smári McCarthy is a digital rights campaigner and ex-member of WikiLeaks. He cofounded the Icelandic Pirate Party because, he says, “the price of criticism is an alternative”. He is one of a number of technological and political innovators who have been active in Iceland for years – this is one of the most digitally connected countries in the world and it was a hub for WikiLeaks in its heyday. There’s an app or a hack for everything here, including a handy iPhone download to stop you from accidentally sleeping with your close cousin (Iceland is such a small place that almost no two people are unrelated within eight generations). McCarthy’s precise words, on hearing that the polls suggest he may be an MP by the following day, are: “Oh, shit. Well, I suppose this was always a possibility.”
McCarthy does politics like a programmer: he amasses piles of relevant information and bombards his opponents with it in a manner that is technically impressive and a little annoying, especially when he’s on television. The Pirates' total dedication to transparency, honesty and evidence-based policymaking is the reason that so many young Europeans find them inspiring, but it's also the reason they might lose this election: telling a lie or compressing a truth to handy slogan-length to win voters would be against their nature, not because they're nice people, but because they're nerds, and nerds are allergic to inaccuracy.
The Pirate Party was built in Sweden in 2006 by hackers and freespeech activists hoping to fight the flood of online censorship bills being enacted in the name of preventing “piracy”. It is now a global movement, with branches in 60 countries and 250 elected representatives, including two members of the European Parliament. Its demographic is young, educated and precariously employed, mostly in programming, with a taste for lots of black clothing. The gender balance at meetings is skewed towards men, although the women the party does have are over-represented in critical roles. Rather than electing official leaders, the Pirates believe in what one campaigner, Alla Ámundadóttir, calls “rough consensus and running code”. It’s all a little bit Occupy Wall Street. If they manage to get elected in Iceland, they’ll have the movement’s first MPs in a national government.
“I’m a Pirate in my heart,” says Jón Thór Ólafsson, 36, one of the movement’s leading candidates. “The Pirates are for freedom and direct democracy. That means that people have the right to participate in decisions that affect them. It changes the rules of the game, and those who have been benefiting from playing the game aren’t very happy about changing the rules.” For someone running against the political mainstream, Ólafsson is a born politician, with a charisma and gift for rhetoric that some of the other Pirates lack – they would far rather build a website than kiss a baby, and that might be to their credit.
“The demand today is for more influence of the people to make decisions that affect them. You see that all around you.” I ask Ólafsson what he means. “Look at the Arab spring. We had revolutions where the demand was for more decision-making in the hands of the people. And in the United States, with the Occupy movement.”
Nearly everybody you meet in Iceland looks like they’re part of the cast of a teenage vampire film, with unearthly good looks and ghostly skin, but Ólafsson in particular could have been grown in a lab set up to produce telegenic politicians and horror-movie heart-throbs. Speaking to him gives you the distinct sensation he’s about to go for your neck. I have no doubt he will be elected.
Democracy, for the Pirates, is something you can build and make better on your computer – something you can hack. “Yesterday we launched a new tool,” Ólafsson says. “We hack the web page of parliament and present their data in an accessible form, so you can see who isn’t showing up for work, who’s skipping class, how they’re voting.” Not everyone is a fan of this strategy. “It sometimes feels like they want to run the whole country like a Ted talk,” says Robert Cluness, a journalist at the Grapevine.
The Pirates have no campaign headquarters, just a favourite downtown café with a cool factor, happy hour, enough ratty sofas to fit ten people with computers and madly expensive bottled beer (alcohol tax was excruciatingly high in Iceland even before the crash). It’s a crowd united by the sense of doing something clever that pisses off the government. Unfortunately, that doesn’t automatically translate into votes. “We have to appeal to farmers about why they should care about the internet, and that’s a tough sell,” says Jason, a strategist for the party.
Ámundadóttir reminds me that what distinguishes the Pirates from other parties is that “we aren’t trying to impress everyone. I’m not afraid to make people angry if I have the right cause. I cannot say something against my heart just to impress the majority.” The Pirates, in other words, are punks – but in a tiny country like Iceland, punks can punch above their weight. In Reykjavík City Hall on election day, hundreds of sleek wooden ballot boxes stand ready to be delivered. Their tops are flipped open so they look like an army of hungry mouths. It’s a numbers game: under Iceland’s proportional system, every party needs 5 per cent of the popular vote to win any seats at all.
The Pirates have been expecting just over that number, which would give them three or four seats out of 63 in the Althingi. They gather at restaurant in town to watch their best-known spokesperson, Birgitta Jónsdóttir, on television, and make use of the free bar to diffuse the tension.
By 3am, the Pirate Party has 4.8 per cent of the popular vote, then 4.85 per cent, then 4.9 per cent. By 4am the tension is unbearable, and drunk rappers and local eccentrics who turn out to be the booked entertainment are running around with tambourines and drums. Smári McCarthy jumps on a chair to direct the Pirates towards a club called Harlem before everyone flips out. Here, it becomes apparent that these people are still 90 per cent Viking; I’ve not been on a more joyfully bloodthirsty dance floor since I was a teenage raver. I end up in the corner watching political candidates fling themselves about to techno. At 9am, the fix is in, and so are the Pirates. Just. The final count is 5.1 per cent.
Three Pirate MPs have been elected to the Althingi. They include Jón Thór Ólafsson and Birgitta Jónsdóttir – the leader the Pirates would have if they went in for that sort of thing. Nobody is in much of a mood for celebration, and that’s not only because everyone has a screaming headache.
Along with the Pirates, large numbers of MPs from the Independence and Progressive parties, the right-wing old guard, were returned to parliament. They will play the leading roles in whatever coalition cabinet is eventually selected, under the stewardship of the Progressive leader, Sigmundur Davið Gunnlaugsson, whose share of the vote almost doubled.
The fairy tale of Iceland as the plucky little anti-austerity utopia is over.
A new generation of politicians is going to have to work out what comes next – not just in Iceland, but all over the world. For the Pirates, that means keeping the grass roots strong, and pushing for more “direct democracy” and for the government to accept the new constitution, which includes safeguards for internet rights.
“We’ll do what we can, and try to have an influence,” says McCarthy, insisting that the Pirates will carry on as before, “working on issues of transparency, access to information, and freedom of speech. That’s not going to change – the only thing that’s changing is the venue, and who pays the bill.”
Translation - Portuguese Eleições islandesas: o fim de um conto de fadas
Depois do crash financeiro de 2008, a Islândia recusou resgatar os seus bancos e demitiu o seu Governo. Mas, cinco anos depois, terá o seu romance com uma alternativa à austeridade acabado?
(Laurie Penny)
Islândia: O país onde um terço da população acredita em duendes lidera o caminho em experiências políticas e económicas.
Estou numa carrinha com três piratas e estamos a pilhar snacks de todos os principais partidos da Islândia. É 27 de Abril, dia de eleições em Reykjavík, e os meses de campanha terminaram. Os candidatos do Partido Pirata ao parlamento não têm nada que fazer a não ser andar de carro entre as várias sedes partidárias e roubar bolo e batatas fritas. Preferem chamar-lhe “fazer frente ao antagonismo do clima político actual”. Visitando partidos rivais. Levando a sua comida.
“Isto é financiado pelos contribuintes, por isso a comida até já é minha”, diz Kristjan, um tecnologista bem disposto, enorme, de barba. Enfia um chocolate gelado no bolso enquanto nos despedimos do centrista Partido Progressista e à sua impressionante mesa de bolo merengado de língua fumada. A seguir, estamos de saída para ir ver os Social-Democratas, que poderão ou não ter café. Há 15 partidos que concorrem às que talvez sejam as mais estranhas eleições que a Europa viu em décadas, por isso é pouco provável passarmos fome.
A Islândia é um pequeno cadinho humano que vai flutuando no meio do Atlântico Norte, e uma experiência de como construir e gerir uma democracia moderna. Durante a maior parte dos últimos 30 anos, adoptou um capitalismo de livre mercado agressivo. Depois os seus bancos faliram, a população perdeu a confiança na política convencional e o país iniciou uma experiência inteiramente diferente. Por toda a zona euro pessoas desesperadas agarram-se ao conto de fadas da Islândia como um país corajoso resistindo à austeridade – mas os Islandeses vêm as coisas de forma diferente.
Nestas eleições, a escolha essencial parece ser entre os partidos de centro-direita que levaram o país ao desastre económico e a coligação esquerda/Verdes que não conseguiu levantá-lo de novo. Os partidos de nicho e os grupos de protesto estão agora a aparecer para preencher o vazio de ideias. Destes recém-chegados, os Piratas – um grupo heterogéneo de hackers, anarquistas e activistas dos direitos digitais – são de longe o mais interessante. Noutros lugares do mundo, activistas da internet como o hacker Andrew “Weev” Auernheimer, o já falecido co-fundador do Reddit Aaron Swartz e muitos outros têm sido processados e presos por lutarem pela liberdade de informação, mas estes estão prestes a entrar no parlamento.
“Estava desiludido com a política há muito tempo, e não pensava que alguma coisa fosse mudar”, diz Bjarni Einarsson, um candidato do Partido Pirata com os óculos de massa e penteado excêntrico de todos os geeks daqui até Hackney. Einarsson, como quase toda a gente que conheci, já não acredita na política através dos partidos.
Então por que está a concorrer ao parlamento? “Porque acredito nas causas”, diz, “e agora sei que se tivermos pelo menos uma ou duas pessoas no parlamento eles podem apresentar leis, propor alterações, fazer melhorias.”
A primeira coisa a compreender acerca da Islândia é que é minúscula. Tem pouco mais de 320.000 habitantes, aproximadamente o mesmo que Reading, e dois terços vivem na capital, Reykjavík, que é aproximadamente do tamanho de Southend. Antes da crise bancária, o investimento dos Estados Unidos, a exploração de recursos naturais e a expansão do sistema financeiro tinham transformado a Islândia de uma das nações mais pobres da Europa numa das mais ricas no espaço de 50 anos. É suficientemente pequena para que a melhor forma de encontrar e entrevistar um deputado é andar por um bar da moda na baixa de Reykjavík e esperar que algum deles se sente na mesa ao lado. É suficientemente pequena para que isto me tenha acontecido duas vezes numa viagem que durou quatro dias. Ah, e cerca de 0,3% dos Islandeses vão eles mesmos concorrer às eleições parlamentares deste ano.
A Islândia sempre se construiu a ela mesma por mitos e lendas. Os seus campos de lava e planícies glaciares são supostamente habitados por elfos, trolls e huldufólk – povo escondido – em quem 80 por cento da população acredita. Ou pelo menos é o que as Relações Públicas da Icelandair querem fazer-nos crer, porque é o que está escrito nos guardanapos que não servem para nada distribuídos na classe económica no voo nocturno para Reykjavík. Na realidade, afinal, apenas 30 por cento da população acredita que as fadas existem, apesar de esse terço estar disposto a causar celeuma para que as estradas sejam desviadas das suas supostas habitações. Isto é tanto de notar que nos podemos questionar por que é que a agência de turismo se incomodou a exagerar aquele número.
A história da insólita situação política da Islândia é outro conto popular que já era fascinante antes de ter sido desmesuradamente (para além de qualquer medida?) exagerado. O que a maior parte do mundo aparentemente acredita é que algures entre 2008 e 2009 o país recusou-se a resgatar os seus bancos quando a economia mundial colapsou e que em vez disso condenou à prisão todos os banqueiros, derrubou o governo, redigiu uma nova constituição através da Internet e elegeu uma primeira-ministra lésbica que resolveu todos os problemas do país com um passe da sua varinha mágica. Neste era global de austeridade imposta, as pessoas querem tanto acreditar nisto que se irritam quando amigos que vivem na Islândia lhes retiram a sua fantasia.
Johanna Sigurdardottir quando foi eleita em 2009. Fotografia: Getty
Eis o que de facto aconteceu. Apesar de ser verdade que se deixou os três maiores bancos – o Glitnir, o Kaupthing e o Landsbanki – irem à falência em 2008, não se tratou de uma escolha política: a Islândia não podia fazer mais nada, porque as suas dívidas eram dez vezes maiores que o seu PIB. Também é verdade que os protestos populares levaram a uma mudança de poder. As manifestações por causa da gestão da crise por parte do governo, em particular contra as promessas feitas ao FMI de reembolsar as gigantescas dívidas do sector financeiro a países como o Reino Unido e a Holanda, começaram em 2008. A 20 de Janeiro de 2009, milhares de islandeses, um povo habitualmente reservado, saíram para as ruas golpeando utensílios de cozinha e atiraram fruta e iogurte contra o Althingi, o edifício do parlamento. Pediam uma mudança de governo.
Obtiveram-no. Um referendo foi rapidamente organizado sobre pagar ou não as dívidas ao estrangeiro e o Estado começou a desenhar uma nova constituição através de consultas públicas que incluíram a recolha de respostas no Facebook. Mas depois o novo governo tentou aliar-se ao FMI sobre as dívidas do banco online Icesave e recusou, pôr em prática a constituição que tinha sido prometida aos Islandeses. Adeus à utopia socialista.
Os banqueiros também não estão todos na prisão: pelo menos um deles está a concorrer ao parlamento. Thrinn Guðjónsson, do partido Madrugada, uma pequena facção saída da esquerda moderada, esteve na “gestão de risco no Icebank” antes do crash financeiro. O trabalho de Guðjónsson, segundo diz, “era, na realidade, confirmar que não havia riscos para nós, o banco. Olhando para trás, devia ter pensado melhor sobre se havia riscos para o país.” Ser candidato de um minúsculo partido com poucas esperanças de ser eleito parece, para Guðjónsson, ser uma forma de expressar a sua exasperação com a sua anterior forma de pensar, que deixou juntamente com o antigo trabalho: “Agora tenho uma pensão e cultivo vegetais orgânicos.”
Encontro-me com ele no dia das eleições, andando às voltas com os Piratas a tentar cravar um jantar. O partido Madrugada já ofereceu quase todo o seu bolo, por isso vamos até à próxima sede partidária, onde conhecemos Thorsteinn Magnusson, um candidato do Partido Progressista, de centro, um dos que no final do dia provavelmente estará de regresso ao governo. Os Progressistas apoiam-se na população que trabalha na agricultura e nas pescas e estão satisfeitos por a sua base de apoio ter acabado o seu flirt com o centro-esquerda, mesmo que isso seja mais um sintoma de medo que outra coisa.
Em vez de resgatar os seus principais bancos, a Islândia desvalorizou a króna e instituiu controlos aos capitais, e a economia contraiu-se de facto: os salários reais caíram e o desemprego passou de 1,6 por cento antes do crash para um máximo de 9,3 por cento. Agora no entanto baixou de novo para cerca de 5 por cento e a economia está lentamente a voltar a crescer.
Onde a Islândia quebrou as regras, no entanto, foi ao escolher imputar as perdas dos bancos aos seus credores, incluindo milhares de milhões em dívidas ao Reino Unido e à Holanda. O FMI tentou forçar a Islândia a pagar estas dívidas e o novo governo, de esquerda de nome, acedeu, mas os Islandeses recusaram qualquer acordo deste tipo.
A mensagem que quase todo o país retirou daqui foi que não podiam confiar que a esquerda parlamentar, exactamente como a direita parlamentar, não se curvasse perante os bancos. A votação na coligação esquerda-verdes que tomou conta do país durante esta suposta revolução desintegrou-se. Metade da Islândia quer agora o regresso dos velhos partidos de centro-direita ao poder, o que, de acordo com Anna Andersen, da revista de língua inglesa Reykjavík Grapevine, é um voto puramente nostálgico – é como votar no ano de 1997. Os restantes irão escolher entre os mais pequenos novos partidos.
O que a Islândia está a viver é uma versão em miniatura da crise democrática que se sentiu por todo o mundo nos anos que se seguiram ao desmoronamento dos bancos em 2008. É uma sensação de que a democracia representativa não está a funcionar. Mas o Partido Pirata é o único que concorre sob a premissa de que todo o sistema está corrompido. A sua solução é um sistema de “democracia directa” promovido digitalmente, cujo objectivo é substituir a democracia parlamentar representativa por algo mais justo.
Essa é parte do motivo por que estou a seguir os Piratas. Outra razão é que um dos seus candidatos por acaso ofereceu-me de dormir num colchão no chão, em sua casa, num quarto que cheira precisamente ao que seria de esperar que o quarto de um hacker de 29 anos que está a concorrer ao parlamento cheirasse – uma atordoante mistura de caixas de pizza, adrenalina e pés.
Smári McCarthy é um activista dos direitos digitais e ex-membro da WikiLeaks. É o co-fundador do Partido Pirata Islandês porque, diz, “o preço da crítica é uma alternativa”. É um de vários promotores (innovators) de inovações tecnológicas e políticas activos na Islândia há anos – este é um dos países mais conectados digitalmente do mundo e foi a plataforma central da WikiLeaks no seu apogeu. Aqui existe uma aplicação ou truque para tudo, incluindo uma conveniente aplicação para iPhone para impedir que se durma acidentalmente com um primo (a Islândia é um lugar tão pequeno que, contando oito gerações, praticamente nenhuma pessoa pode dizer que não tem relações de parentesco com qualquer outra ou: no espaço de oito gerações). As palavras exactas de McCarthy, ao ouvir que as sondagens indicam que pode ter-se tornar-se deputado são: “Oh, merda. Bem, era sempre uma possibilidade, suponho.”
McCarthy faz política como um programador: acumula informação útil e bombardeia os seus adversários com ela de uma forma tecnicamente impressionante e um pouco aborrecida, especialmente quando está na televisão. A dedicação total dos Piratas à transparência, honestidade e decisão política baseada em evidências é a razão de tantos jovens europeus os acharem/verem como inspiradores, mas é também o motivo por que podem perder estas eleições: mentir ou comprimir uma verdade ao tamanho de um slogan conveniente para ganhar votos seria contra a sua natureza, não por serem boas pessoas mas porque são cromos, e cromos são alérgicos à falta de exactidão.
O Partido Pirata foi criado na Suécia em 2006 por hackers e activistas pela liberdade de expressão na esperança de combater a maré de leis estabelecedoras de censura online que estavam a ser promulgadas em nome do combate à “pirataria”. Tornou-se já num movimento global, com ramificações em 60 países e 250 eleitos, incluindo dois deputados europeus. Demograficamente é feito de pessoas jovens, com habilitações superiores à média e com empregos precários, a maior parte em programação informática, com gosto por muitas roupas pretas. A repartição entre géneros nas reuniões é desequilibrada a favor dos homens, embora as mulheres que fazem parte do partido estejam sobre-representadas em cargos de importância. Em lugar de eleger oficialmente líderes, os Piratas acreditam naquilo que um militante, Alla Ámundadóttir, chama de “consenso aproximado e código funcional”. Há em tudo um pouco de Occupy Wall Street. Se conseguirem ser eleitos na Islândia, terão os primeiros deputados do movimento no governo de um país.
“Sou um Pirata de coração”, diz Jón Thór Ólafsson, de 36 anos, um dos principais candidatos do movimento. “Os Piratas defendem a liberdade e a democracia directa. Isso significa que as pessoas têm o direito de participar em decisões que as afectam. Muda as regras do jogo, e os que têm sido beneficiados com o jogo não estão contentes com a mudança de regras”. Para alguém que concorre contra a corrente política, Ólafsson é um político nato, com um carisma e dom para a retórica que alguns dos outros Piratas não têm – prefeririam de longe construir uma página da Internet do que beijar bebés, o que até pode jogar a seu favor.
“As exigências, hoje, são de mais influência das pessoas para tomar decisões que as afectam. Vê-se isso em todo o lado à nossa volta.” Pergunto a Ólafsson o que quer dizer com isso. “Olha para a Primavera Árabe. Tivemos revoluções onde as exigências eram de mais poder de decisão nas mãos das pessoas. E nos Estados Unidos, com o movimento Occupy”.
Quase toda a gente que se conhece na Islândia parece fazer parte do elenco de um filme adolescente de vampiros, com uma beleza de outro mundo e pele demasiado branca, mas Ólafsson em particular podia ter sido criado num laboratório de produção de políticos telegénicos e galãs de filmes de terror. Falar com ele dá a distinta sensação de que está prestes a atirar-se ao nosso pescoço. Não tenho dúvidas de que vai ser eleito.
A democracia, para os Piratas, é algo que se pode construir e melhorar no computador – algo que se pode piratear. “Ontem lançámos uma nova ferramenta”, diz Ólafsson. “Entrámos na página do parlamento e organizámos os dados de uma forma acessível, de forma a podermos ver quem não aparece para trabalhar, quem falta às aulas, de que forma estão a votar.” Nem todos gostam desta estratégia. “Por vezes parece que querem governar o país todo como um Ted talk”, diz Robert Cluness, jornalista da Grapevine.
Os Piratas não têm sede de campanha, apenas um café favorito na baixa com uma atmosfera de charme, uma happy hour, sofás de aspecto duvidoso que chegam para dez pessoas com computadores e cerveja em garrafa ridiculamente cara (as taxas sobre o álcool eram extremamente altas na Islândia, mesmo antes do crash). É um grupo unido pelo sentimento de fazer algo inteligente que chateia o governo. Infelizmente, isso não se traduz automaticamente em votos. “Temos de convencer os agricultores por que se devem preocupar com a Internet, e isso é difícil de fazer passar”, diz Jason, um estratega do partido.
Ámundadóttir relembra-me de que o que distingue os Piratas dos outros partidos é que “não estamos a tentar impressionar toda a gente. Não tenho medo de irritar as pessoas se tenho uma causa justa. Não posso dizer algo contra o que acredito só para impressionar a maioria.” Os Piratas, noutras palavras, são fedelhos – mas num país pequeno como a Islândia, fedelhos conseguem alcançar mais importância do que a que realmente têm. Na câmara municipal de Reykjavík, no dia das eleições, centenas de urnas de voto de madeira esguia estão prestes a ser entregues. As tampas são abertas, e assim parecem um batalhão de bocas esfomeadas. É uma questão de números: segundo o sistema proporcional na Islândia, cada partido precisa de 5 por cento dos votos para conseguir qualquer lugar.
Os Piratas estão à espera de um resultado um pouco acima dessa fasquia, o que lhes daria três ou quatro lugares nos 63 do Althingi. Reúnem-se num restaurante na cidade para ver a sua porta-voz mais conhecida, Birgitta Jónsdóttir, na televisão, e usar o bar aberto para diluir a tensão.
Às 3 da manhã, o Partido Pirata tem 4,8 por cento dos votos, depois 4,85 por cento, depois 4,9 por cento. Às 4 da manhã a tensão é insuportável, e rappers embriagados e excêntricos da zona que são afinal os animadores contratados andam às voltas com tamboretes e tambores. Smári McCarthy salta para uma cadeira para dirigir os Piratas para um bar chamado Harlem antes que todos flipem. Aqui, parece evidente que estas pessoas ainda são 90 por cento Viking; há muito tempo que não estava numa pista de dança tão alegre e sequiosa desde que ia a raves quando era adolescente. Acabo num canto a observar os candidatos políticos agitarem-se sob a música techno. Às 9 da manhã, os resultados finais estão apurados, e os Piratas também. À justa. O resultado final é de 5,1 por cento.
Três deputados piratas foram eleitos para o Althingi, incluindo Jón Thór Ólafsson e Birgitta Jónsdóttir – a líder que os Piratas teriam, se quisessem algo desse género. Ninguém tem muita vontade de celebrar, e não é só porque todos têm uma dor de cabeça de rachar.
Juntamente com os Piratas, muitos deputados dos partidos Independência e Progressista, a velha guarda de direita, foram também eleitos e estão de regresso ao parlamento. Terão os papéis principais qualquer que seja o governo de coligação que acabe por ser escolhido, sob o comando do líder Progressista, Sigmundur Davið Gunnlaugsson, cujos percentagem de votos quase duplicou.
O conto de fadas da Islândia como a corajosa utopia anti-austeridade acabou.
Uma nova geração de políticos terá que conseguir decidir o que virá a seguir – não só na Islândia, mas em todo o mundo. Para os Piratas, isso significa manter as suas bases fortes, e fazer pressão a favor de mais “democracia directa” e para que o governo aceite a nova constituição, que salvaguarda os direitos da internet.
“Faremos o que pudermos, e tentaremos ter alguma influência”, diz McCarthy, insistindo que os Piratas continuarão como antes “a trabalhar em questões de transparência, acesso à informação e liberdade de expressão. Isso não vai mudar – a única coisa que vai mudar é o palco, e quem pagará a conta.”
French to Portuguese: L'Eurosystème, un mécanisme de transferts en faveur des pays déficitaires General field: Social Sciences Detailed field: Economics
Source text - French Revue de l’OFCE / Débats et politiques – 126 (2012)
L’EUROSYSTÈME : UN MÉCANISME DE TRANS-
FERTS EN FAVEUR DES PAYS DÉFICITAIRES ?
LE DÉBAT
André Grjebine
Directeur de recherche à Sciences Po, Centre d’Études et de Recherches Internationales
À l’initiative de plusieurs économistes, en premier lieu du Professeur Hans-
Werner Sinn, président de l’Institut für Wirtschaftsforschung (Ifo) de Munich ,
un vif débat s’est engagé sur la signification véritable et les risques inhérents au
système de compensation qui fonctionne au sein de la zone euro, TARGET2
(Trans-European Automated Real-Time Gross Settlement Express Transfer).
Trois critiques sont principalement émises. La première affirme que le système
TARGET2 est, en fait, l’instrument privilégié et inavoué utilisé par l’Eurosystème
pour renflouer des États européens en difficulté au détriment d’autres États de
la zone euro, en premier lieu de l’Allemagne. La deuxième critique consiste à
dire que les crédits accordés dans le cadre de TARGET2 à un pays déficitaire le
sont au détriment des autres pays de la zone euro. De ce fait, les pays déficitaires
occupent une place prépondérante dans la création monétaire de la zone euro.
La troisième annonce que les difficultés des débiteurs vont se transmettre aux
créanciers de TARGET2 et mettre ceux-ci, à leur tour, en difficulté. De nombreux
auteurs ont contesté ces critiques. Ils montrent les risques de blocage de la zone
euro qu’induirait une limitation drastique du système de compensation
qu’assure TARGET2. Ceci dit, si ce système a sans doute puissamment contribué
à ce que la zone euro surmonte temporairement les déséquilibres commerciaux
et financiers qui risquaient d’entraîner son explosion, ce n’est qu’en s’attaquant
aux déséquilibres structurels entre les pays membres que la pérennité de celle-ci
pourra être assurée.
Mots clefs : TARGET2, Zone euro, Banque centrale européenne (BCE), Banque centrale nationale (BCN), Politique
monétaire, Création monétaire, Taux d’intérêt, Balance courante, Solde débiteur, Solde créditeur, Mouvements
de capitaux, Federal Reserve System (FED), Plan Keynes.
A l’initiative de plusieurs économistes, en premier lieu
du professeur Hans-Werner Sinn, président de l’Institut für
Wirtschaftsforschung (Ifo) de Munich, un débat intense et parfois 270
polémique s’est engagé sur la signification véritable et les risques
inhérents au système de compensation qui fonctionne au sein de la
zone euro, TARGET2 (Trans-European Automated Real-Time Gross
Settlement Express Transfer).
1
Trois critiques sont principalement
émises. La première affirme que le système TARGET2 est, en fait,
l’instrument privilégié et inavoué utilisé par l’Eurosystème pour
renflouer plusieurs États européens en difficulté au détriment
d’autres États de la zone euro, en premier lieu de l’Allemagne. La
deuxième reproche à TARGET2 d’accorder une place prépondé-
rante dans la création monétaire de la zone euro aux pays
déficitaires. La troisième annonce que les difficultés des débiteurs
vont se transmettre aux créanciers de TARGET2 et mettre ceux-ci, à
leur tour, en difficulté. Ceux qui formulent ces critiques en vien-
nent alors à proposer une pénalisation des pays déficitaires auprès
de TARGET2, ou à tout le moins, une limitation des soldes défici-
taires que les pays seraient autorisés à avoir. Le débat ainsi ouvert a
suscité de très nombreuses réactions. La plupart d’entre elles
contestent l’exactitude des affirmations de H.-W. Sinn et de ceux
qui partagent ses vues, montrent que les réformes qu’ils proposent
conduiraient à la disparition de la zone euro, accusent enfin ces
économistes de dissimuler derrière des arguments apparemment
techniques leur volonté d’exclure les pays du Sud de la zone euro
pour en faire une union monétaire qui ne regrouperait que
quelques pays du Nord autour de l’Allemagne.
Nous verrons qu’un système du type TARGET2 est indispen-
sable pour éviter un blocage de la zone euro conduisant à son
explosion. Mais, ce n’est qu’en s’attaquant aux déséquilibres struc-
turels entre les pays membres que la pérennité de celle-ci pourra
être assurée.
Avant de décrire les principaux termes de ce débat et de nous
demander dans quelle mesure les critiques de TARGET2 sont ou
non justifiées, il paraît nécessaire de rappeler quelques principes de
base de ce système et de mettre en évidence les confusions qui
peuvent fausser le jugement sur son fonctionnement et ses effets.
1. Je remercie les personnalités qui m’ont fait part de leurs critiques et suggestions.
En particulier, Christophe Blot et Henri Sterdyniak à l’OFCE et Clemente De Lucia à la Direction
des études économiques de BNP-Paribas. D’autres appartiennent à des institutions publiques et
ne souhaitent pas être citées. Par ailleurs, Christophe Blot a réalisé la plupart des graphiques
contenus dans cette étude. 271
1. Qu’est-ce que TARGET2 ?
Le développement d’un espace monétaire européen s’est accom-
pagné de la création d’un système de paiement entre banques
centrales de l’Eurosystème, d’abord TARGET1, créé en 1999 au
moment de la création de l’euro
2
, qui a été remplacé en novembre
2007 par TARGET2. Ce système assure « l’exécution des paiements
entre banques commerciales en temps réel et en monnaie de banque
centrale, c’est-à-dire avec des espèces sur des comptes ouverts auprès de
leur banque centrale nationale (BCN). » (Banque de France 31/5/
2012).
3
Il est géré par la Bundesbank, la Banque de France et la
Banca d’Italia.
4
Dans ce système, la BCE n’opère qu’avec les BCN
qui exécutent toutes les opérations de politique monétaire, four-
nissant en particulier des liquidités aux banques. Une BCN n’a pas
de transaction directement avec une autre BCN, mais emprunte ou
prête à la BCE, qui fonctionne comme la chambre de compensa-
tion du système TARGET2. La position créditrice ou débitrice de
n’importe quelle BCN l’est vis-à-vis de TARGET2 et non vis-à-vis
d’autres BCN. La balance consolidée nette auprès de TARGET2 des
17 BCN des États membres de la zone euro et de la BCE est égale
à zéro.
En 2011, TARGET2 représentait 91 % en valeur et 59 % en
volume – c’est-à-dire en pourcentage du nombre total de transac-
tions – des règlements importants en euro [ECB 14/11/2012].
Les transferts qui passent par TARGET2 sont enregistrés dans les
comptes financiers des balances de paiements des pays. Il n’y a pas
de valeur minimale ou maximale pour les paiements, mais les
opérations sont en général d’une certaine ampleur. En 2011, la
valeur moyenne d’une transaction sur TARGET2 était de
2. L’euro est utilisé depuis 1999, pour les transactions financières européennes. Il a été mis en
circulation le 1
er
janvier 2002 sous sa forme fiduciaire.
3. Plus précisément, la Banque de France définit TARGET2 comme « le nouveau système de
montant élevé de l’Eurosystème. Il repose sur une plate-forme unique partagée (Single Shared
Platform ou SSP) qui assure la gestion technique des comptes ouverts aux institutions
financières sur les livres des banques centrales participantes. Les relations entre les banques
centrales nationales et leur communauté bancaire demeurent décentralisées. » (www.banque-
france.fr/politique-monetaire/target2.html).
4. L’Eurosystème est composé de la BCE (Banque Centrale Européenne) et des banques
centrales nationales (BCN) des pays membres de la zone euro. Le Système Européen des Banques
Centrales (SEBC) regroupe, lui, la BCE et les BCN de l’Union Européenne, y compris donc les
BCN des États de l’Union Européenne qui ne participent pas à la zone euro. Les États membres
de l’Union Européenne ne participant pas à la zone euro peuvent également être connectés à
TARGET2. Près de 4 500 institutions participent directement ou indirectement à TARGET2. 272
6,8 millions d’euros, mais 67 % de ces transactions avaient une
valeur inférieure à 50 000 euros et 11 % une valeur supérieure à
1 million d’euros. Les soldes cumulés des positions dans TARGET2
sont, en revanche, beaucoup plus faibles, comparés aux montants
échangés quotidiennement dans le système. Le solde de plusieurs
BCN a néanmoins significativement augmenté depuis le début de
la crise financière.
Un tel système n’est pas propre à la zone euro. En fait, il a pris le
relai, dans les pays membres, des systèmes de compensation natio-
naux existant avant la création de l’euro. Un système comparable
existe dans d’autres pays, en particulier aux États-Unis. Le Fedwire
américain obéit à des principes similaires à ceux qui régissent
TARGET2, à la différence notable près que l’exécution de la poli-
tique monétaire est décentralisée au sein de la zone euro, alors
qu’elle est centralisée par la Federal Reserve Bank de New-York aux
États-Unis.
5
Cette différence s’explique d’abord par le fait que le
Fedwire appartient à un État fédéral, ce qui n’est pas le cas de
TARGET2. Elle s’explique ensuite par les degrés d’avancement très
différents de l’intégration des systèmes monétaires américain et
européen. Elle s’explique enfin par un souci de proximité et d’effi-
cience. Une BCN est mieux à même de contrôler les opérations
d’une banque commerciale située sur son territoire que la BCE
plus lointaine.
Le débat sur TARGET2 est souvent faussé par la difficulté de
situer ce système par rapport à d’autres structures (balance des paie-
ments des États membres, marché monétaire européen, etc.), en
particulier en raison de la confusion de la position d’une BCN
auprès de TARGET2 avec les créances d’un État sur ses partenaires
de la zone euro. Il convient donc de préciser ces points que nous
retrouverons en examinant les critiques émises à l’encontre de
ce système.
1. La balance des paiements reflète les flux courants ou finan-
ciers d’un État avec le reste du monde au cours d’une année. Les
créances d’un État sur le reste du monde correspondent, elles, à un
stock qui résulte de ces flux dans le passé, mais également de
l’appréciation ou de la dépréciation des avoirs à l’étranger des rési-
5. Fedwire est la « plate-forme » sur laquelle sont comptabilisés les soldes du Federal Reserve
Interdistrict Settlement Account qui donnent lieu à des transferts inter-districts. (cf. annexe 1).273
dents d’un pays. La position extérieure nette d’un pays est le solde
de ces créances et de ces dettes sur le reste du monde. Les soldes de
TARGET2 résultent, eux, de la différence entre les créances et les
dettes d’un État sur les pays de la zone euro, en monnaie banque
centrale c’est-à-dire sur des comptes ouverts auprès de la banque
centrale. Chaque banque de l’Eurosystème a un compte auprès de
sa BCE et l’addition de ces comptes constitue la position de celle-ci
auprès de TARGET2.
2. Il n’y a pas forcément de lien direct entre le déficit de la
balance courante d’un pays et l’endettement de sa banque centrale
auprès du système TARGET2 (graphiques 1a, b, c, d, e). Les mouve-
ments de capitaux jouent, en effet, un rôle majeur dans les
positions TARGET2, en particulier à court terme. (EEAG 2012 ; P.
De Grauwe et Y. Ji 12/9/2012). Un pays peut, par exemple,
compenser des sorties de capitaux privés par des prêts accordés par
la BCE. Il aura donc un solde déficitaire auprès de TARGET2, alors
que son solde financier (comptabilisé dans la balance des paie-
ments) sera équilibré. Depuis 2007-2008, certains pays comme la
Grèce et le Portugal ont principalement financé leur déficit courant
par des crédits TARGET2. Le rapport EEAG observe que ces deux
pays ont bénéficié de l’assistance officielle bien avant la mise en
œuvre des opérations de « secours » en 2010. En Irlande, des sorties
de capitaux massives expliquent que la position débitrice a large-
ment dépassé le déficit courant au cours de ces années. En Espagne,
dans les années 2008-2010, les entrées de capitaux ont permis de
financer la majeure partie du déficit courant, ce qui explique que la
position débitrice dans TARGET2 ne se soit détériorée qu’à partir
de 2010-2011. En Italie, l’endettement à l’égard de TARGET2
a brutalement augmenté à partir du second semestre 2010, à la
suite d’une forte réduction des placements italiens et étrangers
dans ce pays.274
Le recours aux BCN explique le gonflement des positions
TARGET2 dans les périodes de crise (graphique 2) et inversement
leur tassement dans des périodes d’accalmie où les banques sont de
nouveau à même, au moins de manière temporaire, de recourir aux
marchés financiers pour se refinancer (graphique 3). Les BCN n’ont
pas, en effet, vocation à se substituer de façon permanente et régu-
lière au marché monétaire afin de réaliser des transferts entre les
banques des États membres de la zone euro. L’existence de
TARGET2 permet au marché interbancaire européen de s’appuyer
sur une structure efficace et sécurisée, particulièrement précieuse en
période d’incertitude. Il est vraisemblable que la zone euro n’aurait
pu exister sans TARGET2, plus exactement elle n’aurait sans doute
pas survécu à la crise.
Graphique 1. Soldes cumulés de la balance courante depuis 2003
et positions TARGET2
Note : Le cumul de la balance courante est effectué à partir de 2003.
Source : Euro crisis monitor.
-300
-250
-200
-150
-100
-50
0
50
100
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Balance courante cumulée
Solde Target
Italie
Balance courante cumulée
Solde Target
-700
-600
-500
-400
-300
-200
-100
0
100
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Espagne
Balance courante cumulée
Solde Target
-160
-140
-120
-100
-80
-60
-40
-20
0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Irlande
Balance courante cumulée
Solde Target
-160
-140
-120
-100
-80
-60
-40
-20
0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Balance courante cumulée
Solde Target
-250
-200
-150
-100
-50
0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Grèce
Portugal275
Il est intéressant d’observer que la crise financière a provoqué
une baisse similaire du marché interbancaire aux États-Unis après
la faillite de Lehman Brothers en 2008 [graphique 4]. La proportion
du financement par le marché bancaire au total du bilan des
Graphique 2. Positions TARGET2
Source : Euro crisis monitor.
Graphique 3. Part du financement des banques de la zone euro intermédié par la BCE
Source : BCE.
-1000
-800
-600
-400
-200
0
200
400
600
800
1000
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Finlande
Portugal
Autriche
Pays-Bas
Italie
France
Espagne
Grèce
Irlande
Allemagne
Belgique
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Part du financem ent interm édié par la BCE276
banques commerciales américaines est ainsi passée d’environ 6 %
au début de 2008 (il atteignait 8 % dans les années 1980) à 1 % en
2010 (Sober Look, 28/6/2012).
3. Jens Ulbrich et Alexander Lipponer (2012) observent que « les
balances TARGET2 dépendent largement de la distribution des
activités de trésorerie des banques dans la zone euro… Si l’approvi-
sionnement en monnaie centrale de l’Eurosystème était fait de
manière centralisée par la BCE, il n’y aurait en principe pas de
balances nationales [d’accroissement des soldes excédentaires ou
déficitaires] dans TARGET2. Les pays déficitaires de la zone euro
contracteraient davantage de crédits auprès de la BCE et d’autres en
contracteraient moins. Les créances sur TARGET2 sont générées
par la construction décentralisée de l’Eurosystème. » Ils concluent
que « ce ne sont pas les balances de TARGET2 qui sont décisives
pour la politique monétaire de l’Eurosystème, mais l’offre totale de
liquidités – peu importe quelle banque centrale nationale en est la
première pourvoyeuse. […] Un euro est un euro, indépendamment
de la banque centrale nationale qui l’a mis en circulation. » Pour sa
part, Jens Weidmann (13/3/2012), Président de la Bundesbank,
tout en critiquant vigoureusement le fonctionnement de
TARGET2, observe que « si la politique monétaire de l’Eurozone
était centralisée par la BCE, il n’y aurait pas de balances TARGET2 ;
Graphique 4. Évolutions comparées de TARGET2 et de Fedwire
Valeur moyenne quotidienne en % du PIB
Source : BCE, FED.
0
5
10
15
20
25
30
35
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Fedwire
Target277
néanmoins, les risques inhérents à la création de liquidités ne
seraient pas fondamentalement modifiés. »
4. Les positions auprès de TARGET2 varient en fonction du
« climat » sur les marchés financiers, c’est-à-dire du degré d’incerti-
tude et d’inquiétude qui y règne. En temps « normal », une
entreprise d’un pays A important des biens d’équipement d’un
pays B, s’adresse à sa banque, qui peut financer cette acquisition en
empruntant sur le marché monétaire, sans doute à une banque du
pays B. Celle-ci dispose, en effet, d’un accroissement de liquidités à
la suite du virement provenant du pays A. Les soldes TARGET2 des
deux pays seront, tous les deux, équilibrés, le paiement de l’impor-
tation étant compensé par le prêt finançant cette importation. Il en
est autrement en période de crise, ou au moins d’inquiétude, sur les
marchés financiers internationaux. En fait, s’il est peut-être
excessif d’affirmer que le marché interbancaire européen n’existe
plus depuis 2010 (P. De Grauwe & Y. Ji, 2/11/2012), il n’en est pas
moins vrai qu’il ne fonctionne que de manière très sélective, les
pays du Sud n’y ayant que très difficilement accès – ou pas du tout
pour certains d’entre eux. Leurs banques ne peuvent donc se refi-
nancer qu’auprès de leur BCN. D’où l’importance croissante des
soldes TARGET2.
Supposons, un transfert provenant de banques ou de pays
considérés comme peu sûrs par les marchés vers des banques ou des
pays qui paraissent moins risqués. Un déposant espagnol décide de
transférer 100 000 euros d’un compte dans une banque espagnole,
disons Santander (S), vers un compte dans une banque allemande,
Deutsche Bank (DB). Pour S, cette opération signifie une réduction
des dépôts qu’elle détient de 100 000 euros. Ses réserves auprès de
la BCN, la Banco de España (BE) diminuent du même montant.
Le solde de cette dernière auprès de TARGET2 est réduit de
100 000 euros et celui de la Bundesbank (BB) est augmenté
de 100 000 euros. Les réserves de la DB auprès de la BB sont crédi-
tées de 100 000 euros et son engagement vis-à-vis du déposant
espagnol augmente du même montant. Les bilans des deux
banques commerciales considérées sont tous les deux équilibrés.
Pour la banque S, le transfert de dépôts est comptabilisé comme
une réduction de son passif (son engagement vis-à-vis d’un dépo-
sant diminue) en même temps que la diminution de ses réserves
auprès de la banque centrale s’interprète comme une réduction de 278
son actif. Il en est de même pour la DB qui, d’un côté, reçoit un
nouveau dépôt (accroissement du passif), de l’autre, voit une
augmentation de ses réserves auprès de la BB (actif). En ce qui
concerne les BCN, les modifications induites par ce transfert
peuvent être interprétées comme des variations des positions crédi-
trices (amélioration pour la BB) ou débitrices (détérioration pour la
BE) des deux BCN.
6
Par conséquent, les créances de la Bundesbank
auprès de TARGET2 augmentent. En revanche, les créances nettes
de l’Allemagne ne sont pas affectées par ce transfert « spéculatif ».
Enfin, la DB disposant de plus de liquidités peut les prêter sur le
marché interbancaire européen. La situation n’est pas foncière-
ment différente de celle ou la banque commerciale d’un
importateur finance cette importation en empruntant sur le
marché interbancaire européen. Cette opération décidée par un
ressortissant espagnol a donc provoqué une augmentation de la
liquidité en Allemagne et une diminution de la liquidité
en Espagne.
Supposons maintenant que la banque S ne parvient pas à se refi-
nancer sur le marché interbancaire européen, elle s’adresse à sa
banque centrale. Celle-ci émet de la monnaie en fonction de sa
politique monétaire, plus exactement de la politique décidée par la
BCE dont elle est en quelque sorte l’agent exécutif à l’échelle d’un
État. Le flux monétaire correspondant au transfert de capitaux (ou
au financement d’une importation) n’est donc pas compensé, dans
TARGET2, par un flux financier privé en sens inverse. Cette
compensation se fait par un accroissement de la position débitrice
de la Banco de España auprès de la BCE.
De plus, à la suite du transfert de S vers DB, la banque espagnole
ne satisfait plus le coefficient de réserves obligatoires exigé, même
si celui-ci est actuellement très faible. Elle doit par conséquent
augmenter sa demande de liquidités de la banque centrale pour
revenir au niveau de réserves exigées. En temps « normal », cette
demande est d’autant plus facilement satisfaite que la DB dispose, à
la suite de l’opération envisagée, de réserves excédentaires et peut
donc les prêter à S. En période de crise, la DB préfère accumuler des
6. Il est également convenable que ces transfets, qu’ils aient une origine commerciale ou
purement financière, se fassent entre par exemple une banque française et son correspondant en
Allemagne. Dans ce cas, le mouvement n’est pas répertorié par TARGET2.279
réserves auprès de la BB que d’accroître ses créances sur S. La
banque espagnole doit donc s’adresser à sa banque centrale.
7
5. À première vue, on peut se demander si l’existence d’un
espace monétaire européen ne justifierait pas la suppression des
balances de paiements entre pays membres de l’union monétaire.
Wolfgang Münchau (4/3/2012) suggère ainsi qu’un moyen de
supprimer le problème de solvabilité au sein de la zone euro serait
de supprimer les statistiques. Alors que les balances de paiements
entre régions d’un même État, ou même entre États d’un même
État fédéral comme les États-Unis, ne posent pas de problème, n’en
serait-il pas de même entre États appartenant à une union moné-
taire ? Au sein d’un État, les flux financiers comme les flux
commerciaux entre régions (États) ne sont même pas répertoriés.
Il s’agit d’un débat déjà ancien. Martin Wolf (16/2/2012) rappelle
que l’argument avait été avancé, avant même la création de l’euro.
Dans un article publié dans le Financial Times, le 27 juin 1991,
Samuel Brittan affirmait ainsi que « la possibilité d’éliminer le
problème des balances des paiements une fois pour toutes consti-
tuera l’un des principaux avantages d’un système monétaire
européen. » Envisageant la participation du Royaume-Uni à la zone
euro, il ajoutait que, dans cette hypothèse, il serait absurde de
traiter différemment les échanges entre la Normandie et le Sussex
qu’on ne traite les échanges entre le Sussex et le Yorkshire, quand
les trois régions seraient supposées appartenir à une zone moné-
taire unique. Répondant à cette argumentation, Tony Thirlwall (9/
10/1991) répliquait qu’il y a, au contraire, de bonnes raisons de
traiter différemment les échanges entre la Normandie et le Sussex
qu’on ne traite le Sussex et le Yorkshire. « D’abord, parce que la
Grande-Bretagne en tant qu’État peut se sentir responsable des rési-
dents du Sussex, mais non de ceux de Normandie. En second lieu,
son système fiscal peut permettre des transferts entre deux régions
britanniques, mais non entre une région française et une région
britannique. » La Grande-Bretagne n’appartient pas à la zone euro,
mais y appartiendrait-elle que la différenciation entre un État, fut-il
fédéral, et une union monétaire, établie par Thirlwall, serait
toujours valable. Dans le même esprit, Maurice Obstfeld (6/1/2012)
7. Cf. notamment C. De Lucia (septembre 2012), plus particulièrement l’annexe :
« Comptabilité TARGETS ».280
observe que l’absence au sein de la zone euro d’une autorité régu-
lant les différentes composantes de l’Union et contrôlant la
fiscalité de chacune d’elles la distingue fondamentalement des
unions monétaires telles que les États-Unis où les statistiques des
balances courantes inter-étatiques ne sont même pas collectées.
2. Les critiques contre TARGET2
Trois critiques majeures sont émises à l’encontre de TARGET2.
Nous allons les étudier successivement, avant d’examiner les
réformes suggérées par les adversaires de ce système, au moins dans
sa forme actuelle.
2.1. TARGET2 contraint-il, de facto, les pays du Nord de la zone euro
à financer les pays du Sud ?
Il est vrai que les crédits de l’Eurosystème peuvent permettre à la
banque centrale d’un pays en difficulté de maintenir le crédit
domestique de manière à contrecarrer peu ou prou une fuite
massive de capitaux. Au fur et à mesure que les investisseurs
deviennent plus réticents à accorder à des pays en difficulté des
prêts qu’ils jugent risqués, la solvabilité des banques de ces pays
tend ainsi à être assurée par la BCE, par l’intermédiaire de leur
BCN. Elle le fait à la fois par des interventions à court terme et, en
principe à titre exceptionnel, par des prêts à trois ans et à bas taux
d’intérêt (1 %). En temps normal, c’est-à-dire quand le marché
interbancaire fonctionne correctement, la BCE étalonne les quan-
tités de liquidité qu’elle souhaite fournir aux banques dans ses
opérations de refinancement, afin de répondre à leurs besoins de
liquidité. La crise qui s’est traduite par une forte baisse des opéra-
tions sur le marché interbancaire a conduit la BCE à introduire, dès
octobre 2008, puis de développer, une politique d’allocation de
toutes les liquidités demandées à taux fixe et contre des garanties
appropriées, selon le principe FRFA (fixed rate, full allotment)
(J.M. Gonzalez-Paramo 21/10/2011). Ces opérations permettent à
la BCE de restreindre le risque de liquidité qui pèse sur les banques
commerciales, en même temps qu’elles donnent un répit aux États
les plus endettés.
Hans-Werner Sinn et Timo Wollmershäuser (24/6/2011; Sinn,
1/6/2011) en tirent argument pour affirmer que les BCN des pays 281
du Nord de la zone euro, principalement la Bundesbank, finan-
cent, par l’intermédiaire du système TARGET2, les pays du Sud de
la zone, les « PIGS » (Portugal, Irlande, Grèce, Espagne (Spain en
anglais)), auxquels on tend à ajouter maintenant l’Italie (PIIGS).
Martin Wolf (28/12/2011) résume ainsi ce processus : « Les
banques centrales nationales fournissent à leurs banques la
monnaie dont leurs clients ont besoin pour régler leurs importa-
tions pour autant que celles-ci sont plus importantes que ce
qu’elles reçoivent en exportant. Cette monnaie finit dans les
banques commerciales des pays excédentaires qui la déposent à
leur banque centrale. Fondamentalement, la monnaie de base
créée dans des pays déficitaires est utilisée pour payer des biens et
services en provenance des pays excédentaires – et également des
sorties de capitaux vers ces pays. »
Dans le même esprit, Thomas Mayer (26/10/2011) montre que
les opérations de financement de la BCE jouent principalement en
faveur des pays déficitaires, les banques commerciales des pays
excédentaires recevant suffisamment de capitaux pour ne pas avoir
besoin de recourir à la BCE. A l’appui de cette thèse, H.-W. Sinn et
T. Wollmershäuser avancent que, fin 2010, les créances cumulées
des BCN d’Allemagne, du Luxembourg, des Pays-Bas et de la
Finlande sur TARGET2 s’élevaient à 455 milliards d’euros (dont
326 pour la seule Bundesbank), ce qui permettait largement de
financer les 340 milliards d’euros de dettes des PIGS.
À cela Willem Buiter, Ebrahim Rahbari et Jürgen Michels (9/6/
2011) répondent qu’il n’y a pas de lien direct entre le déficit de la
balance courante d’un pays et l’endettement de sa banque centrale
auprès du système TARGET2. Ils donnent l’exemple de l’Irlande,
dont la dette à l’égard de TARGET2 a atteint un niveau record en
2010, alors que sa balance courante était pratiquement équilibrée.
En revanche, la fuite des capitaux et plus généralement les diffi-
cultés financières des banques des pays périphériques de la zone
euro paraissent jouer un rôle beaucoup plus important dans un tel
endettement. Les observations d’Ulrich Bindseil et Philipp Johann
König (juin 2011) confirment cette objection. Comparant, mois
par mois, les évolutions de la balance courante et de l’endettement
de la Grèce auprès de TARGET2 (de mars 2004 à décembre 2010),
ils montrent l’absence de corrélation évidente entre les deux. Il en
est de même pour l’Irlande (2002-2010). L’endettement de la Grèce 282
auprès de TARGET2 a souvent été déterminé par une fuite de capi-
taux. Par ailleurs, U. Bindseil et P. -J. König remarquent qu’un
disfonctionnement du marché interbancaire va généralement de
pair avec une fuite de capitaux hors du système bancaire d’un pays
et vers d’autres pays offrant plus de garanties. A contrario, dans
l’hypothèse où le marché interbancaire fonctionne correctement,
les banques disposant de liquidités abondantes d’un pays exporta-
teur pourront prêter aux banques d’un pays importateur
recherchant des liquidités directement sur le marché interbancaire.
Dans ces conditions, les créances et les dettes pourront se
compenser et les déséquilibres enregistrés par TARGET2 seront
faibles. Au contraire, en cas de disfonctionnement du marché
interbancaire, la BCE sera amenée à servir d’intermédiaire, les
comptes créditeurs de certains pays et les comptes déficitaires
d’autres vont alors augmenter.
Ainsi, depuis l’éclatement de la crise bancaire aux États-Unis
dans les années 2007-2008 et sa diffusion en Europe et dans le reste
du monde, l’encours des prêts interbancaires a diminué et, en
revanche, les prêts du SEBC aux banques ont fortement augmenté.
Au lieu que les banques commerciales disposant de liquidités
importantes les prêtent à d’autres banques européennes ayant un
besoin de financement comme cela se faisait principalement avant
la crise, les réticences éprouvées à accorder des prêts entre banques
commerciales expliquent que ces opérations transitent par les
banques centrales nationales et, en fin de compte, par les positions
excédentaires ou déficitaires auprès de la BCE, c’est-à-dire par le
système TARGET2.
Le recul des prêts interbancaires conduit donc à un gonflement
du bilan de la BCE. Cette réticence des banques à se prêter des liqui-
dités ne s’explique pas seulement par des doutes sur leur solvabilité
respective, mais plus encore sur celle de leur pays d’appartenance
résultant de la faiblesse des perspectives de croissance et de la persis-
tance de déficits extérieurs dans ces pays. Pour changer cet état de
fait, il ne suffit donc pas d’encourager l’augmentation des fonds
propres des banques. Il faut encore et surtout améliorer la situation
de ces pays, en particulier en réduisant les déséquilibres des
balances courantes au sein de la zone euro autrement qu’en
condamnant les pays déficitaires à l’austérité. 283
2.2. TARGET2 accorde-t-il une place prépondérante dans la création
monétaire de la zone euro aux pays déficitaires ?
Un deuxième argument développé par H.W. Sinn [1/6/2011]
– celui du « Kreditersatzpolitik » (substitution de crédits) – consiste
à dire que les crédits accordés dans le cadre de TARGET2 à un pays
déficitaire le sont au détriment des autres pays de la zone euro. Sinn
écrit: « Année après année, la monnaie qui va des PIGS vers les
autres pays de la zone euro évince la monnaie BCN de ces pays aussi
bien que les crédits qui auraient été autrement consentis aux
banques commerciales de ces pays. » Aaron Tornell et Frank Wester-
mann [28/9/2011] complètent cet argument en affirmant que
TARGET2 donne aux pays déficitaires un rôle clef dans la politique
monétaire de la zone euro. Les pays déficitaires imposeraient, d’une
certaine manière, cette politique monétaire européenne, aux pays
excédentaires. Tornell et Westermann observent que le montant de
titres détenus par la Bundesbank est passé de 268 milliards d’euros
en décembre 2007 à 21 milliards en octobre 2011 pendant que les
créances sur l’Eurosystème ont augmenté de près de 400 milliards
(passant de 98 milliards à 496 milliards d’euros). Les créances des
banques commerciales allemandes sur la BCE augmentant (en
contrepartie de l’augmentation des créances de cette dernière sur les
BCN des pays périphériques), elles éprouvent beaucoup moins le
besoin de se financer auprès de la Bundesbank.
L’augmentation de l’endettement d’une banque centrale natio-
nale auprès de Target2 n’implique cependant pas que la BCE réduise
ses crédits à une autre banque centrale nationale. La BCE contrôle,
en effet, le taux d’intérêt dans la zone euro et c’est en fonction de ces
taux que « le stock de monnaie de base et de crédit de la BCE est
déterminé de manière endogène par les banques commerciales. »
(Buiter et alii, 9/6/2011, p.4). De même, rien n’interdit à la BCN d’un
pays d’accroître ses crédits à ses banques commerciales, pour peu
que le besoin s’en fasse sentir, même si l’excédent des comptes exté-
rieurs de ce pays alimente déjà le système bancaire en liquidités.
8
Bindseil et König (juin 2011) rappellent que, selon les estima-
tions de la Bundesbank, de décembre 2009 à décembre 2010, les
contributions intérieures (crédits à l’économie) à M2 et M3 ont
8. On peut lire les prolongements du débat Sinn/Buiter dans Sinn 5/7/2011, article suivi d’une
réponse de Buiter à cette réponse de Sinn.284
respectivement progressé de 4,2 % et 4,4 %, malgré une augmenta-
tion de 83 % des créances de la Bundesbank sur TARGET2. Par
ailleurs, si les autorités monétaires européennes estiment excessive
l’augmentation de la liquidité, il leur suffit en général d’augmenter
les taux d’intérêt consentis aux banques pour les réserves qu’elles
déposent auprès de la BCE ou de vendre des certificats de dette
dont l’acquisition par les banques permettra d’absorber une partie
de la monnaie créée.
9
2.3. Des difficultés des débiteurs de TARGET2 peuvent-elles se
transmettre à leurs créanciers ?
Certains auteurs observent que les principaux pays créditeurs
sont sous la menace d’une perte de solvabilité, voire d’une faillite
des États les plus endettés. Dans ce cas, leurs banques commerciales
ou leur BCN devront renoncer à récupérer tout ou partie de leurs
créances. H.W. Sinn chiffre la perte de la Bundesbank, dans l’hypo-
thèse d’une faillite de la Grèce, de l’Irlande, de l’Italie, du Portugal
et de l’Espagne, à 899 milliards d’euros, et à 1 350 milliards d’euros
en cas de faillite de l’Eurosystème, soit plus de 40 % du PIB alle-
mand (H.W. Sinn 12/6/2012). Sinn (22/10/2012) ajoute qu’une
agence de notation, Moody’s, a déjà tenu compte de ce risque en
envisageant récemment de dégrader la note de l’Allemagne, des
Pays-Bas et du Luxembourg, compte-tenu notamment des risques
inhérents à leurs créances sur TARGET2.
Pour examiner les conséquences envisageables des difficultés
des pays du Sud sur les pays du Nord, plaçons-nous dans le cadre
des relations financières entre l’Allemagne et le pays du Sud dont la
sortie de l’euro est le plus souvent envisagée, la Grèce. Il convient
de distinguer si les créances sont détenues par des banques
commerciales allemandes ou par la Bundesbank. Dans le premier
cas, si un grand nombre de titres possédés par une banque
commerciale se déprécie ou si des débiteurs importants (État, entre-
prises ou ménages) font faillite, la banque peut être acculée à la
9. Illustrant cette stratégie un communiqué du Conseil des Gouverneurs de la BCE du 10/5/
2010 annonce sa décision d’intervenir sur les marchés financiers pour lutter contre les tensions
apparues sur ceux-ci. « Afin de stériliser l’effet de ces interventions, des opérations allaient être
entreprises pour ré-absorber les liquidités injectées dans le cadre du Programme des marchés de
titres, ce qui devait assurer que la politique monétaire n’en serait pas affectée. »285
faillite. Elle doit, en effet, rembourser elle-même des créanciers.
Or, elle n’a plus les actifs correspondants.
Dans l’hypothèse d’une sortie de l’euro d’une Grèce incapable
d’honorer ses dettes, il est probable que les créances des banques
allemandes sur diverses institutions grecques (banques, entre-
prises, etc.) vont perdre une bonne partie de leur valeur, que ce soit
à la suite de faillites d’un certain nombre de ses institutions ou
d’une conversion de ces créances dans une drachme appelée à se
déprécier fortement.
Examinons maintenant la situation de la Bundesbank dans la
même hypothèse. Tout d’abord, dans le cadre du SEBC, les pertes
subies par une banque centrale en raison d’une défaillance d’un
État partenaire ne dépendent pas de l’importance de ses créances
sur le SEBC. Une étude de la Bundesbank (2011) explique ainsi que
« le coût de telles pertes sera réparti entre les banques centrales
nationales en fonction de leur participation au capital de la BCE.
Autrement dit, le risque encouru par la Bundesbank sera le même
que les créances détenues sur le SEBC soit le fait de la Bundesbank
ou d’une banque centrale d’un autre pays européen. » Il est vrai
que, dans le cas extrême, d’une sortie de l’euro de plusieurs pays
membres importants (France, Italie, Espagne, par exemple, sans
parler de quelques petits pays comme la Grèce ou le Portugal), la
part des membres restants sera considérablement accrue.
Supposons même une implosion de la zone euro. Légalement, la
sortie hors de l’euro n’éteint pas la dette d’une banque centrale.
Il est donc probable que bon nombre d’entre elles voudront
honorer leurs dettes. Il faut néanmoins envisager que certains débi-
teurs de TARGET2 se trouveront dans l’impossibilité de rembourser
leurs dettes. Vont-ils pour autant les « répudier » c’est-à-dire
s’abstenir de tout remboursement (faillite à 100 %) ? Faut-il
craindre alors que les États créanciers, par exemple l’Allemagne,
soient contraints de recapitaliser leur banque centrale par un
recours à la fiscalité ? (Ulrich et Lipponer, 2012, p.74).
Ce risque de faillite des débiteurs ne se pose pas dans les mêmes
termes pour une banque centrale que pour des banques commer-
ciales. La banque centrale pourra toujours rembourser parce qu’elle
peut toujours créer de la monnaie (A. Grjebine 2012c). La Bundes-
bank va simplement libeller les actifs correspondant à ces créances 286
« disparues » en nouveaux DM qu’elle pourra créer en quantité
suffisante pour compenser cette perte théorique. Dans un système
monétaire fondé sur la confiance, et plus fondamentalement sur le
pouvoir d’achat d’une monnaie, la valeur de celle-ci reflète son rôle
comme instrument d’échanges plutôt que la qualité des actifs
(stock d’or, etc.) détenus par la banque centrale. Le pouvoir d’achat
d’une monnaie résulte de l’équilibre entre la quantité de monnaie
émise – c’est-à-dire son offre – et sa demande, et en fin de compte
de la confiance dans l’économie dont cette monnaie est l’émana-
tion. Le problème est donc avant tout comptable. Une banque
centrale ne peut faire faillite que si elle est principalement endettée
dans une devise étrangère, en particulier si la valeur de cette
dernière s’apprécie par rapport à la monnaie nationale.
Selon toute vraisemblance, la valeur de la monnaie sera moins
que jamais jugée sur la qualité des actifs de la banque centrale.
Karl Whelan (29/4/2012, p.4) observe qu’afin de s’assurer qu’au
bilan de la Bundesbank les actifs seront aussi importants que les
engagements, il suffira que les dirigeants allemands demandent à
la Bundesbank de rédiger elle-même un chèque égal à la valeur des
crédits accordé à TARGET2 – et non récupérés – et d’accroître
chaque année son actif du montant des intérêts que ces crédits
auraient dû induire. « La solvabilité technique de la Bundesbank
serait ainsi rétablie sans recourir à une taxation supplémentaire des
contribuables allemands.»
De ce point de vue, la forte réduction des créances des banques
allemandes sur les pays périphériques de la zone euro, les PIIGS,
réduction compensée par un accroissement concomitant des
créances sur TARGET2 devrait rassurée H.W. Sinn. En 2007, les
banques allemandes avaient des créances directes sur les banques
des pays périphériques de plus de 800 milliards d’euros. En mars
2012, ces créances dépassaient à peine ( !) 400 milliards d’euros
(cf. annexe 1). En revanche, la part détenue par la Bundesbank de
l’excédent de TARGET2 sur les PIIGs, négligeable en 2007, attei-
gnait près de 600 milliards d’euros. Comme le notent Sebastien
Dullien et Mark Schieritz (7/5/2012), dans la mesure où on peut
prévoir que la Bundesbank va toujours honorer ses dettes à l’égard
des banques commerciales sises sur son territoire, le transfert d’une
partie des créances sur des pays risqués comme la Grèce des
banques commerciales vers la Bundesbank, a permis aux premières 287
de « remplacer des créances risquées sur l’étranger par des créances
domestiques sans risque ». Ce qui leur permet de dire que « les
épargnants allemands devraient applaudir la croissance des
balances TARGET2 ».
Certes, la croissance du solde allemand dans TARGET2 ne
s’explique pas exclusivement par le rapatriement de créances alle-
mandes. Les résidents des pays périphériques ont, eux aussi, placé
une part croissante de leurs fonds en Allemagne. Le rapatriement
des fonds allemands est néanmoins la principale composante de la
progression du solde allemand auprès de TARGET2. Selon S. Dullien
et M. Schieritz, d’août 2008 à janvier 2012, les banques allemandes
ont réduit leurs créances sur le reste de la zone euro de 320 milliards
d’euros. Durant la même période, les créances nettes de l’Allemagne
sur TARGET2 ont augmenté de 390 milliards d’euros.
Dans quelle mesure la compensation des créances en euros déte-
nues par la Bundesbank par une émission de nouveaux DM peut-
elle être inflationniste ? On peut d’abord envisager que la
confiance dont jouira la nouvelle monnaie allemande entraînera
son appréciation et donc une réduction des exportations alle-
mandes. Un effet déflationniste risque d’en découler. Mais, on peut
aussi envisager qu’en prévision de cette appréciation du DM, de
nombreux étrangers seront tentés de placer leurs avoirs en Alle-
magne. Il sera évidemment plus intéressant de convertir des euros
en DM qu’en pesetas ou en drachmes. Ces conversions peuvent
Graphique 5. Créances des banques allemandes et créances TARGET2
de la Bundesbank sur les pays périphériques
Source : F. Salmon (14/6/2012),www.reutersreprints.com
Créances privées
Créances publiques288
avoir un effet inflationniste en Allemagne. Pour l’éviter, P. De
Grauwe et Y. Ji (12/9/2012 et 18/9/2012) proposent de restreindre
les possibilités de conversion en DM pour les non résidents. Le
« spéculateur » espagnol qui aura transféré ces capitaux en Alle-
magne, comme dans l’exemple envisagé précédemment, sera ainsi
invité à les retourner en Espagne où il pourra les convertir en
pesetas avec des perspectives évidemment beaucoup moins sédui-
santes. Examinant cette mesure, H.-W. Sinn (22/10/2012) conclut
qu’elle ne serait applicable que pour les flux de capitaux « de
dernière minute », c’est-à-dire précédant de peu l’implosion de
l’euro. Peut-on imaginer que l’Allemagne se résolve à limiter la
convertibilité de sa monnaie pour les non-résidents ? Ne serait-il
pas plus aisément concevable d’appliquer des taux d’intérêt néga-
tifs aux détenteurs non-résidents de fonds libellés en marks ?
En toute hypothèse, il incomberait à la Bundesbank de trouver un
juste milieu entre les risques de déflation inhérents à une apprécia-
tion excessive de sa monnaie et le risque d’inflation provoqué par
la conversion en mark d’un afflux de capitaux provoqué par l’éven-
tualité d’une implosion de l’euro.
Enfin, on peut se demander si l’accumulation d’une énorme
quantité de titres publics de pays en difficulté dans le bilan de la
BCE peut entraîner une forte dévalorisation de l’euro ? Tout
d’abord, une telle dépréciation serait sans doute la bienvenue. Elle
est cependant peu probable de manière durable compte tenu de la
composition même de la zone où des pays comme l’Allemagne ou
les Pays-Bas voisinent avec des pays plus faibles. De plus, il y a peu
de placements offrant une sécurité comparable à celle de la
monnaie européenne. Les États-Unis, le Royaume-Uni ou le Japon
sont davantage endettés que la zone euro.
2.4. Pénaliser les pays déficitaires auprès de TARGET2 ?
En février 2012, le Président de la Bundesbank, Jens Weidmann,
a adressé au Président de la BCE, Mario Draghi, une lettre faisant
part de son inquiétude au sujet des risques provenant de la déci-
sion de la BCE prise en décembre d'assouplir les règles sur les
garanties que les banques doivent présenter pour pouvoir
emprunter auprès d'elle. Il est même allé jusqu’à suggérer que les
créances sur TARGET2 soient « sécurisées » c’est-à-dire gagées par 289
exemple par des propriétés ou d’autres actifs grecs ou espagnols !
(Münchau 4/3/2012).
D’autres auteurs, également soucieux d’éviter aux contribuables
des pays excédentaires auprès de TARGET2 d’avoir un jour à
financer les impayés de pays insolvables, prônent un système
de sanctions des pays chroniquement déficitaires. Helmut
Schlesinger, ancien Président de la Bundesbank, propose que les
pays déficitaires soient astreints à des taux d’intérêt de plus en plus
élevés qu’ils verseraient aux pays excédentaires (cité par Sinn, 10/
3/2012). Pour sa part, le groupe d’experts réunis par le CESifo,
l’European Economic Advisory Group, suggère d’adopter un
système qui s’inspirerait de celui qui fonctionne, selon lui, aux
États-Unis (EEAG 2012) (cf. annexe 1). Soucieux de pénaliser les
États durablement déficitaires et de les astreindre à s’attaquer éner-
giquement à leur déficit, l’EEAG écarte la création d’un eurobond.
Un titre offrant le même taux d’intérêt à tous les pays de la zone
euro, quelle que soit leur situation, annihilerait en effet les diffé-
rences de risques sur les emprunts des uns et des autres et inciterait
à négliger les risques spécifiques sur tel ou tel pays. Il favoriserait,
de surcroît, une mauvaise allocation des ressources au sein de la
zone euro. Le rapport de l’EEAG observe que même les États améri-
cains ne peuvent pas tous emprunter au même taux. Il propose
donc que chaque État de la zone euro émette des bons du Trésor à
court terme gagés sur des droits prioritaires sur les futures recettes
fiscales ou sur des actifs immobiliers détenus par l’État. Chaque
État sera autorisé à émettre de tels bons en pourcentage de son PIB.
En réalité, le modèle de pénalisation des États déficitaires qui
fonctionne aux États-Unis n’est pas aussi rigoureux que l’EEAG le
suggère. Mais surtout, il n’est concevable que parce qu’il va de pair
avec un système de transferts de grande ampleur par l’intermé-
diaire du budget fédéral et une mobilité des facteurs de production,
notamment en raison d’une langue commune.
Martin Wolf (16/2/2012) observe qu’au sein de la zone euro, ces
transferts existent, mais ils transitent pour une bonne part par la
BCE. En décembre 2011, la BCE a ainsi mis à la disposition des
banques 489 milliards d’euro sur trois ans à un taux d’intérêt
de 1 % (LTRO1 = Long-terme Refinancing Operation). Cette opéra-
tion (LTRO2) a été répétée le 29 février 2012, atteignant un
montant de 530 milliards d’euros répartis entre près de 290
800 banques. Ces prêts se substituent en partie à des crédits à court
terme consentis aux banques commerciales venant à échéance.
Ces opérations permettent à la BCE de réduire le risque de liquidité
qui pèse sur les banques commerciales en même temps qu’elles
donnent un répit aux États les plus endettés. La BCE espère égale-
ment que les banques utiliseront une partie notable des prêts qui
leur ont été consentis pour accroître leurs crédits aux entreprises et
aux ménages et favoriser ainsi une reprise de la croissance. Au
30 mars 2012, le dispositif de sauvetage comprend 500 milliards du
Mécanisme Européen de Stabilité (MES) et quelques 300 milliards
déjà engagés au profit de la Grèce, du Portugal et de l’Irlande, sans
compter les 240 milliards que le Fonds européen de stabilité finan-
cière (FESF) n’a toujours pas utilisés. Contrairement au FESF qui
dépendait de la garantie des États, le MES dispose d’un capital
propre. En outre, la dette du MES reste en son sein et ne vient pas
alourdir celle des États.
2.5. Peut-on limiter TARGET2 ?
À défaut de pénaliser les pays déficitaires, certains auteurs envi-
sagent de limiter TARGET2. H.-W. Sinn (29/4/2011)
10
souligne
qu’« Une telle limite n’éliminera pas les déficits des balances
courantes, mais elle les réduira aux flux de capitaux privés qui dési-
reront les financer. » U. Bindseil et P.-J. König objectent qu’une
telle limitation remettrait en question l’existence même de l’Union
monétaire européenne (Bindseil et König, 2011, pp.1, 25 et suiv. ;
Jobst 19/7/2011). Celle-ci suppose, en effet, que les transactions
intra-européennes sont traitées comme des transactions au sein
d’un seul pays. C’est précisément ce qui différencie une union
monétaire d’un ensemble de pays dont les monnaies sont reliées
entre elles par des taux de change fixes. En outre, « annoncée à
l’avance, une telle politique va probablement conduire à une fuite
de capitaux hors des pays qui approcheront des limites qui leur
auront été assignées dans TARGET2. » L’adoption d’une telle
réforme conduirait, selon eux, à une zone euro limitée aux pays
structurellement excédentaires, les monnaies des pays déficitaires
10. H.-W. Sinn propose, par ailleurs, que tous les pays qui termineront l’année avec une dette
nette auprès de TARGET2 soient astreints à transférer leurs avoirs… jusqu’au moment où ils en
manqueront et seront mis au ban du système. 291
étant définies par rapport à cette zone, ce qui semble être le véri-
table projet de Sinn.
De plus, limiter l’endettement auprès de TARGET2 restreindrait
considérablement le rôle de prêteur en dernier ressort que devrait
jouer la BCE. Une limitation de TARGET2 impliquerait, en effet,
l’incapacité de la BCE d’intervenir sans limites, directement ou
indirectement, pour sauver de la banqueroute une banque
commerciale ou un État. Or, un système d’assurance – et c’est le
cas d’une banque centrale qui joue le rôle de prêteur en dernier
ressort – est d’autant plus efficace et doit d’autant moins intervenir
pour démontrer cette efficacité que tout le monde sait qu’elle le
fera en cas de besoin. Si la BCE s’était montrée moins timorée et
avait annoncé, dès l’origine de la crise, qu’elle achèterait des dettes
publiques de la zone euro sans limites de montant et de durée, elle
aurait de facto garanti ces dettes et les investisseurs les auraient
achetées sans que la BCE ait effectivement à intervenir. La BCE a
annoncé le 6 septembre 2012 qu’elle rachètera des emprunts d’État
sur le marché de manière illimitée pour annihiler la spéculation et
stopper l’envolée des taux d’intérêt des pays en difficulté. Elle a
néanmoins précisé que ses interventions seront conditionnées par
l’application par le pays bénéficiaire d’un programme d’assainisse-
ment financier qui lui sera dicté par le Fonds Européen de Stabilité
Financière (FESF). Qu’arrivera-t-il si le pays, compte tenu de sa
situation, ne parvient pas à se conformer à ces exigences ? Si la BCE
arrête ses interventions en sa faveur, il sera vraisemblablement
menacé de défaut et devra sans doute quitter précipitamment la
zone euro, avec les conséquences en chaîne pour les autres pays
que l’on peut prévoir. Si la BCE poursuit, malgré tout, ses achats, en
ignorant la conditionnalité, on imagine les craintes et les remous
qu’une telle action suscitera en Allemagne.
Translation - Portuguese O SISTEMA EURO: UM MECANISMO DE TRANSFERÊNCIAS PARA OS PAÍSES DEFICITÁRIOS?
DEBATE
André Grjebine
Director de investigação no Sciences Po, Centre d’Études et de Recherches Internationales
Texte source:
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Por iniciativa de vários economistas, em primeiro lugar o Professor Hans-Werner Sinn, presidente do Institut für Wirtschaftsforschung (Ifo) de Munique, desencadeou-se um aceso debate sobre a real importância e os riscos inerentes do sistema de compensações existente no seio da zona euro, o TARGET2 (Trans-European Automated Real-Time Gross Settlement Express Transfer). São feitas três críticas principais. A primeira sustenta que o sistema TARGET2 é, efectivamente, o instrumento privilegiado e inconfesso utilizado pelo sistema euro para auxiliar os Estados europeus em dificuldade em detrimento de outros estados da zona euro, em primeiro lugar da Alemanha. A segunda crítica é a de que, no quadro do TARGET2, os créditos são concedidos a um país deficitário em detrimento de outros países da zona euro. Por esse motivo, os países deficitários têm um lugar preponderante na criação monetária na zona euro. A terceira prevê que as dificuldades dos devedores se irão transmitir aos credores TARGET2 e colocá-los por seu turno em dificuldades. Muitos autores contestaram estas críticas, apontando os riscos de bloqueio da zona euro que seriam induzidos por uma limitação drástica do sistema de compensação assegurado pelo TARGET2. Feitas estas críticas, se este sistema contribuiu sem dúvida em larga escala para que a zona euro ultrapassasse temporariamente os desequilíbrios comerciais e financeiros e o risco de que estes levassem à sua destruição, apenas atacando os desequilíbrios estruturais entre os países-membros será possível assegurar a sua longevidade.
Palavras-chave: TARGET2, Zona euro, Banco Central Europeu (BCE), Banco Central Nacional (BCN), Política monetária, Taxa de juro, Balança corrente, Saldo devedor, Saldo credor, Movimentos de capital, Federal Reserve System (FED), Plano Keynes.
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P
or iniciativa de vários economistas, em primeiro lugar do Professor Hans-Werner Sinn, presidente do Institut für Wirtschaftsforschung (Ifo) de Munique, desencadeou-se um aceso e por vezes polémico debate sobre o verdadeiro significado e os riscos inerentes do sistema de compensações que funciona no seio da zona euro, o TARGET2 (Trans-European Automated Real-Time Gross Settlement Express Transfer). São feitas três críticas principais. A primeira sustenta que o sistema TARGET2 é, efectivamente, o instrumento privilegiado e inconfesso utilizado pelo sistema euro para auxiliar os estados europeus em dificuldade em detrimento de outros estados da zona euro, em primeiro lugar da Alemanha. A segunda acusa o TARGET2 de conferir aos países deficitários um lugar preponderante na criação monetária na zona euro. A terceira prevê que as dificuldades dos devedores se irão transmitir aos credores TARGET2 e colocá-los por seu turno em dificuldades. Estes críticos vêm assim propor uma penalização dos países deficitários no TARGET2 ou, no mínimo, uma limitação dos saldos deficitários que os países estariam autorizados a manter. O debate que foi desta forma aberto suscitou inúmeras reacções. A maior parte delas contesta a exactidão das afirmações de H.-W. Sinn e de quem partilha a sua perspectiva, demonstrando que as reformas que aqueles economistas propõem conduziriam à desaparição da zona euro e acusando-os mesmo de, por trás de argumentos aparentemente técnicos, dissimular a sua vontade de excluir os países do Sul da zona euro para a tornar numa união monetária que apenas integraria alguns países do Norte em redor da Alemanha.
Iremos constatar que um sistema do tipo TARGET2 é indispensável para evitar um bloqueio da zona euro que iria conduzir à sua destruição. No entanto, apenas será possível assegurar a sua longevidade atacando os desequilíbrios estruturais entre os países-membros.
Antes de descrever os tópicos principais deste debate e de nos perguntarmos em que medida as críticas ao TARGET2 são ou não justificadas, afigura-se necessário recordar alguns princípios de base desse sistema e pôr em evidência os equívocos que podem falsear o julgamento sobre o seu funcionamento e os seus defeitos.
1. O que é o TARGET2?
O desenvolvimento de um espaço monetário europeu foi acompanhado da criação de um sistema de pagamento entre os bancos centrais do sistema euro, numa primeira fase o TARGET1, criado em 1999 no momento da criação do euro , que foi substituído em Novembro de 2007 pelo TARGET2. Este sistema assegura “a execução dos pagamentos entre bancos comerciais em tempo real e em moeda do banco central, isto é, em espécies em contas abertas no seu banco comercial nacional (BCN).”. (Banque de France 31/5/2012). É gerido pelo Bundesbank, pelo Banque de France e pelo Banca d’Italia. Neste sistema, o BCE apenas trabalha com os BCN, que executam todas as operações de política monetária, em especial o fornecimento de liquidez aos bancos. Um BCN não efectua directamente transacções com outro BCN, mas antes pede emprestado ou empresta ao BCE, que funciona como a câmara de compensação do sistema TARGET2. O saldo devedor ou credor de qualquer BCN é estabelecido em relação ao TARGET 2 e não em relação a outros BCN. O balanço consolidado líquido no TARGET2 dos 17 BCN dos estados-membros da zona euro e do BCE é igual a zero.
Em 2011, o TARGET2 representava 91% em valor e 59% em volume – isto é, em percentagem do número total de transacções – dos pagamentos em euros [ECB 14/11/2012]. As transferências que passam pelo TARGET2 são registadas nas contas financeiras das balanças de pagamento dos países. Não existe valor mínimo nem máximo para os pagamentos, mas as operações são em geral de alguma dimensão. Em 2011, o valor médio de uma transacção no TARGET2 era de 6,8 milhões de euros, mas 67% dessas transacções tinham um valor inferior a 50.000 euros e 11% um valor superior a 1 milhão de euros. Os saldos acumulados dos saldos TARGET2 são, pelo contrário, muito menores quando comparados com os valores transaccionados diariamente no sistema. Apesar disso, o saldo de alguns dos BCN aumentou significativamente desde o início da crise financeira.
Um sistema deste tipo não é específico da zona euro. Com efeito, ocupou o lugar dos sistemas de compensação nacionais existentes nos países-membros antes da criação do euro. Existem sistemas comparáveis noutros países, designadamente nos Estados Unidos. O Fedwire americano obedece a princípios semelhantes aos que regem o TARGET2, com a importante diferença de que no seio da zona euro a execução da política monetária é descentralizada, enquanto nos Estados Unidos está centralizada no Federal Reserve Bank de New York. Esta diferença explica-se em primeiro lugar pelo facto de o Fedwire pertencer a um Estado federal, o que não é o caso do TARGET2; é explicada também pelos graus de progressão muito diferentes da integração dos sistemas monetários americano e europeu; explica-se por fim por uma preocupação de proximidade e de eficiência. Um BCN está em melhor posição para controlar as operações de um banco comercial que se encontra no seu território do que o BCE, mais afastado.
O debate sobre o TARGET2 é frequentemente deturpado pela dificuldade de posicionar este sistema em relação a outras estruturas (balança de pagamentos dos estados-membros, mercado monetário europeu, etc.), sobretudo devido à confusão entre o saldo de um BCN no TARGET2 e os créditos de um estado sobre os seus parceiros da zona euro. É, portanto, conveniente, analisar em pormenor os pontos que iremos encontrar ao avaliar as críticas feitas contra este sistema.
1. A balança de pagamentos reflecte os fluxos correntes ou financeiros de um estado com o resto do mundo ao longo de um ano. Os créditos de um estado sobre o resto do mundo, por seu lado, resultam destes fluxos no passado, mas também da apreciação ou depreciação do património no estrangeiro dos residentes de um país. A posição exterior líquida de um país é o saldo destes créditos e débitos em relação ao resto do mundo. Os saldos TARGET2 resultam, por seu lado, da diferença entre os créditos e os débitos de um estado em relação aos países da zona euro em moeda do banco central, isto é, nas contas abertas no banco central. Cada banco do sistema euro tem uma conta no seu BCE [NT: BCN?] e a soma dessas contas constitui o saldo desta no TARGET2.
2. Não existe necessariamente uma relação directa entre o défice da balança corrente de um país e o endividamento do seu banco central no sistema TARGET2 (gráficos 1a, b, c, d, e). Os movimentos de capital desempenham, com efeito, um papel determinante nos saldos TARGET2, sobretudo a curto prazo. (EEAG 2012; P. De Grauwe e Y. Ji 12/9/2012). Um país pode, por exemplo, compensar saídas de capitais privados com empréstimos concedidos pelo BCE. Existirá assim um saldo deficitário no TARGET2, ao passo que o seu saldo financeiro (contabilizado pela balança de pagamentos) estará equilibrado. Desde 2007-2008 que alguns países como a Grécia ou Portugal têm financiado o seu défice corrente através sobretudo de créditos TARGET2. O relatório EEAG nota que estes dois países beneficiaram de assistência oficial muito antes da implementação das operações de “socorro” em 2010. Na Irlanda, as saídas massivas de capitais explicam por que o saldo devedor ultrapassou largamente o défice corrente no decurso desses anos. Em Espanha, nos anos 2008-2010, as entradas de capital permitiram financiar a maior parte do défice corrente, o que explica que o saldo devedor no TARGET2 apenas se tenha deteriorado a partir de 2010-2011. Em Itália, o endividamento no TARGET2 aumentou enormemente a partir do segundo semestre de 2010, no seguimento de uma forte redução dos valores italianos e estrangeiros colocados neste país.
Gráfico 1. Saldos acumulados da balança corrente desde 2003 e saldos TARGET2
Nota: o saldo cumulativo da balança corrente é efectuado a partir de 2003.
Fonte: Euro crisis monitor.
O recurso aos BCN explica a expansão dos saldos TARGET2 nos períodos de crise (gráfico 2) e inversamente a sua compressão nos períodos de acalmia, em que os bancos têm condições, pelo menos de forma temporária, para recorrer aos mercados financeiros para se refinanciarem (gráfico 3). Os BCN não têm, efectivamente, vocação para substituírem de forma permanente e regular os mercados monetários na realização de transferências entre os bancos dos estados-membros da zona euro. A existência do TARGET2 permite ao mercado interbancário europeu apoiar-se numa estrutura segura e eficaz, especialmente valiosa em períodos de incerteza. É provável que a zona euro não pudesse ter existido sem o TARGET2; e, de forma mais clara, não teria sem dúvida sobrevivido à crise.
Gráfico 2. Saldos TARGET2
Fonte: Euro crisis monitor.
Gráfico 3. Parte do financiamento dos bancos da zona euro intermediado pelo BCE
Fonte: BCE
É interessante observar que a crise financeira provocou uma baixa similar no mercado interbancário dos Estados Unidos após a falência do Lehman Brothers em 2008 [gráfico 4]. A proporção de financiamento através do mercado bancário no total do balanço dos bancos comerciais americanos passou, assim, de cerca de 6% no início de 2008 (atingia 8% nos anos 1980) a 1% em 2010 (Sober Look, 28/6/2012).
Gráfico 4. Evolução comparada do TARGET2 e do Fedwire
Fonte: BCE, Fed
3. Jens Ulbrich e Alexander Lipponer (2012) notam que “os balanços TARGET2 dependem em larga medida da distribuição das actividades de tesouraria dos bancos na zona euro… Se o aprovisionamento em moeda central do sistema euro fosse efectuado de forma centralizada pelo BCE, não haveria, em princípio, balanços nacionais [aumento dos saldos excedentários ou deficitários] TARGET2. Os países deficitários da zona euro contrairiam mais empréstimos junto do BCE e outros contrairiam menos. Os créditos TARGET2 são gerados pela construção descentralizada do sistema euro.” Os autores chegam à conclusão de que “não são os balanços TARGET2 que são decisivos para a política monetária do sistema euro, mas sim a oferta total de liquidez – não interessa que banco central nacional é o fornecedor principal. […] Um euro é um euro, independentemente do banco central nacional que o colocou em circulação.” Por sua parte, Jens Weidmann (13/3/2012), presidente do Bundesbank, nota, ao mesmo tempo que critica acerrimamente o funcionamento do TARGET2, que “se a política monetária da zona euro estivesse centralizada no BCE, não haveria balanços TARGET2; apesar disso, os riscos inerentes à criação de liquidez não seriam fundamentalmente alterados.”
4. Os saldos TARGET2 variam em função do “clima” dos mercados financeiros, isto é, do grau de incerteza e de inquietação existentes. Em circunstâncias “normais”, uma empresa de um país A que importa bens de equipamento de um país B dirige-se ao seu banco, que pode financiar esta aquisição através de um empréstimo no mercado financeiro, sem dúvida a um banco do país B. De facto, este conhece um acréscimo de liquidez após o registo do crédito proveniente do país A. Os saldos TARGET2 dos dois países estarão ambos equilibrados, sendo o pagamento da importação compensado pelo empréstimo que financiou essa importação. O caso é diferente em períodos de crise ou pelo menos de inquietação nos mercados financeiros internacionais. De facto, se é talvez excessivo afirmar que o mercado interbancário europeu deixou de existir a partir de 2010 (P. De Grauwe e Y. Ji, 2/11/2012), não é por isso menos verdade que apenas funciona de forma muito selectiva, em que os países do Sul a só conseguem aceder ao mercado com dificuldade – ou de nenhuma forma, para alguns deles. Os seus bancos apenas se podem por isso refinanciar junto do seu BCN. De onde a importância crescente dos saldos TARGET2.
Suponhamos uma transferência proveniente de bancos ou de países aparentemente com menos risco. Um depositante espanhol decide transferir 100.000 euros de uma conta num banco espanhol, digamos o Santander (S), para uma conta num banco alemão, Deutsche Bank (DB). Para S, esta operação significa uma redução dos depósitos que detém em 100.000 euros. As suas reservas no Banco de España (E) diminuem no mesmo montante. O saldo deste no TARGET2 reduz-se em 100.000 euros e o do Bundesbank (BB) aumenta 100.000 euros. As reservas do DB no BB são creditadas em 100.000 euros e o seu saldo em relação ao depositante espanhol aumenta no mesmo montante. Os balanços dos dois bancos comerciais são considerados ambos equilibrados. Para o banco S, a transferência de depósitos é contabilizada como uma redução do seu passivo (a sua relação com um depositante diminui) ao mesmo tempo que a diminuição das suas reservas no banco central é interpretada como uma redução do seu activo. O mesmo se passa para o DB que, de um lado, recebe um novo depósito (acréscimo do passivo) e, do outro, vê um aumento das suas reservas no BB (activo). No que diz respeito aos BCN, as alterações induzidas por esta transferência podem ser interpretadas como variações dos saldos credores (melhoria para o BB) ou devedores (deterioração para o BE) dos dois BCN. Assim, o crédito do Bundesbank no TARGET2 aumenta. Por outro lado, o crédito líquido da Alemanha não é afectado por esta transferência “especulativa”. Por fim, como o DB dispõe de mais liquidez pode colocá-la no mercado interbancário europeu. A situação não é fundamentalmente diferente daquela em que o banco comercial de um importador financia essa importação através de um pedido de crédito no mercado interbancário europeu. Esta operação decidida por um cliente em Espanha causou desta forma um aumento da liquidez na Alemanha e uma diminuição da liquidez em Espanha.
Suponhamos agora que o banco S não se consegue refinanciar no mercado interbancário europeu e se dirige ao seu banco central. Este emite moeda em função da sua política monetária, ou mais exactamente da política decidida pelo BCE da qual é de alguma forma o agente executivo à escala de um estado. O fluxo monetário correspondente à transferência de capitais (ou ao refinanciamento de uma importação) não é assim compensado, no TARGET2, por um fluxo financeiro privado no sentido inverso. Esta compensação faz-se por um aumento do saldo devedor do Banco de España no BCE.
Para além disso, no seguimento da transferência de S para DB, o banco espanhol deixa de satisfazer o coeficiente de reservas obrigatórias exigido, mesmo sendo este actualmente muito baixo. Consequentemente, tem de aumentar a sua procura de liquidez do banco central para retomar o nível de reservas exigido. Em circunstâncias “normais”, esta procura é mais facilmente satisfeita, dado que o DB dispõe, após a operação em causa, de reservas excedentárias e pode assim empresta-las a S. Em períodos de crise, o DB prefere acumular reservas no BB em lugar de aumentar o seu crédito sobre S. O banco espanhol tem assim de se dirigir ao seu banco central.
5. À primeira vista, podemo-nos perguntar se a existência de um espaço monetário europeu não justificaria a supressão das balanças de pagamento entre países-membros da união monetária. Wolfgang Münchau (4/3/2012) sugere assim que uma forma de eliminar o problema de solvabilidade no seio da zona euro seria não publicar as estatísticas. Uma vez que as balanças de pagamentos entre regiões do mesmo estado, ou mesmo entre estados do mesmo estado federal, como os Estados Unidos, não colocam problemas, não seria também o caso entre estados pertencentes a uma união monetária? No interior de um estado, tanto os fluxos financeiros como os fluxos comerciais entre regiões (estados) não são sequer reportados. É um debate já antigo. Martin Wolf (16/2/2012) recorda que este argumento já tinha sido avançado antes mesmo da criação do euro. Num artigo publicado no Financial Times a 27 de Junho de 1991, Samuel Brittan afirmou, neste sentido, que “a possibilidade de eliminar o problema das balanças de pagamento de uma vez para todas constituirá uma das principais vantagens de um sistema monetário europeu.” Tendo em vista a participação do Reino Unido na zona euro, acrescentava que, nessa hipótese, seria absurdo tratar de forma diferente as trocas entre a Normandia e o Sussex do que as trocas entre o Sussex e o Yorkshire, dado que supostamente as três regiões pertenceriam a uma zona monetária única. Contra esta argumentação, Tony Thirlwall (9/10/1991) respondeu que, pelo contrário, existem boas razões para tratar de forma diferente as trocas entre a Normandia e o Sussex do que entre o Sussex e o Yorkshire. “Em primeiro lugar, porque a Grã-Bretanha, como estado, pode ser responsável pelos residentes do Sussex, mas não pelos da Normandia. Em segundo lugar, o seu sistema fiscal permite transferências entre duas regiões britânicas, mas não entre uma região francesa e uma região britânica.” A Grã-Bretanha não pertence à zona euro, mas este seria um dos factores pelos quais a diferenciação entre um estado, mesmo que federal, e uma união monetária, estabelecida por Thirlwall, se manteria ainda válida. Neste espírito, Maurice Obstfeld (6/1/2012) nota que a ausência na zona euro de uma autoridade reguladora das diferentes componentes da União e de controlo da fiscalidade de cada uma distingue-a fundamentalmente das uniões monetárias como os Estados Unidos, em que as estatísticas das balanças correntes interestaduais não são sequer recolhidas.
2. As críticas ao TARGET2
Três grandes críticas são feitas em relação ao TARGET2. Iremos examiná-las de seguida, antes de analisar as reformas sugeridas pelos oponentes a este sistema, pelo menos na sua forma actual.
2.1 O TARGET2 condiciona, de facto, os países do Norte da zona euro a financiar os países do Sul?
É verdade que o crédito obtido junto do sistema euro pode permitir ao banco central de um país em dificuldades manter o crédito doméstico para tentar, de alguma forma, contrariar uma fuga massiva de capitais. À medida que os investidores se tornam mais reticentes a conceder empréstimos que consideram arriscados a países em dificuldades, a solvabilidade dos bancos desses países tem assim tendência a passar a ser assegurada pelo BCE, por intermédio do seu BCN, que o faz ao mesmo tempo através de intervenções a curto prazo e, em princípio a título excepcional, através de empréstimos a três anos e a taxas de juro baixas (1%). Em circunstâncias normais, isto é, quando o mercado interbancário funciona correctamente, o BCE avalia a quantidade de liquidez que deseja fornecer aos bancos nas suas operações de refinanciamento, de forma a responder às suas necessidades de liquidez. Ao traduzir-se numa forte queda das operações no mercado interbancário, a crise levou o BCE a introduzir em Outubro de 2008, e posteriormente a desenvolver, uma política de satisfação de todas as solicitações de liquidez a uma taxa fixa e contra garantias apropriadas, segundo o princípio FRFA (fixed rate, full allotment) (J.M. Gonzalez-Paramo 21/10/2011). Estas operações permitem ao BCE limitar o risco de liquidez que pesa sobre os bancos comerciais, ao mesmo tempo que constituem um alívio aos estados mais endividados.
Hans-Werner Sinn e Timo Wollmershäuser (24/6/2011; Sinn, 1/6/2011) retiram daqui a sustentação para argumentar que os BCN dos países do Norte da zona euro, principalmente o Bundesbank, financiam por intermédio do sistema TARGET2 os países do Sul, os “PIGS” (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha (Spain em inglês)), aos quais se tende agora a acrescentar a Itália (PIIGS). Martin Wolf (28/12/2011) resume assim este processo: “Os bancos centrais nacionais fornecem aos seus bancos a moeda de que os clientes destes necessitam para pagar as suas importações sempre que o seu valor seja maior que o que recebem pelas exportações. Esta moeda acaba nos bancos comerciais dos países excedentários, que a depositam no seu banco central. A base monetária criada nos países deficitários é fundamentalmente utilizada para pagar bens e serviços provenientes dos países excedentários – e igualmente as saídas de capitais para esses países.”
Também nesse espírito, Thomas Mayer (26/10/2011) demonstra que as operações de financiamento do BCE actuam sobretudo a favor dos países deficitários, uma vez que os bancos comerciais dos países excedentários recebem capitais suficientes para não necessitarem de recorrer ao BCE. Apoiando esta tese, H.-W. Sinn e T. Wollmershäuser indicam que, no final de 2010, os créditos acumulados dos BCN da Alemanha, do Luxemburgo, da Holanda e da Finlândia no TARGET2 alcançavam 455 mil milhões (dos quais 326 apenas do Bundesbank), largamente suficientes para financiar os 340 mil milhões de euros de dívidas dos PIGS.
Willem Buiter, Ebrahim Rahbari e Jürgen Michels (9/6/2011) contestam que não existe nenhum elo directo entre o défice da balança corrente de um país e o endividamento do seu banco central em relação ao TARGET2. Os autores dão o exemplo da Irlanda, onde a dívida em relação ao TARGET2 atingiu um nível record em 2010, quando a sua balança corrente estava praticamente equilibrada. Por outro lado, a fuga de capitais e de forma mais genérica as dificuldades financeiras dos bancos dos países periféricos da zona euro parecem desempenhar um papel bastante mais importante num processo de endividamento deste género. As observações efectuadas por Ulrich Bindseil e Philipp Johann König (Junho de 2011) confirmam esta objecção. Os autores fazem uma comparação, mês a mês, da evolução da balança corrente e do endividamento da Grécia no TARGET2 (de Março de 2004 a Dezembro de 2010), demonstrando a ausência de evidências de correlação entre ambos. O mesmo acontece para a Irlanda (2002-2010). O endividamento da Grécia no TARGET2 foi com frequência ditado por fugas de capital. Para mais, U. Bindseil e P.-J König salientam que o disfuncionamento do mercado interbancário é geralmente acompanhado por uma fuga de capitais do sistema bancário de um país em direcção a outros países que ofereçam mais garantias. A contrario, na hipótese de o mercado interbancário funcionar correctamente, os bancos de um país exportador que disponham de liquidez abundante poderão emprestar aos bancos de um país importador que procurem liquidez directamente no mercado interbancário. Nestas condições, os créditos e as dívidas poderão compensar-se mutuamente e os desequilíbrios registados no TARGET2 serão reduzidos. Pelo contrário, em caso de disfuncionamento do mercado interbancário, o BCE será levado a servir de intermediário e os saldos credores de alguns países e os saldos devedores de outros irão então aumentar.
Desta forma, desde o espoletar da crise bancária nos Estados Unidos nos anos 2007-2008 e da sua difusão na Europa e no resto do mundo, o stock de créditos interbancários diminuiu e, em contraponto, os empréstimos do SEBC aos bancos aumentou significativamente. Em vez de os bancos comerciais que disponham de liquidez significativa concederem empréstimos a outros bancos europeus com necessidades de financiamento, como era a regra geral antes da crise, as reticências em conceder empréstimos entre bancos comerciais explicam por que essas operações passaram a transitar pelos bancos centrais nacionais e, afinal, pelos saldos excedentários ou deficitários no BCE, ou seja através do sistema TARGET2.
O recuo do créditos interbancário conduziu portanto a um aumento do balanço do BCE. Estas reticências dos bancos a emprestar liquidez entre eles não se explica unicamente pelas dúvidas sobre a sua respectiva solvabilidade mas, em maior grau, sobre aquela do país a que pertencem, como resultado das fracas perspectivas de crescimento e da persistência de défices exteriores nesses países. Para alterar este estado de coisas, não é por isso suficiente encorajar o aumento dos fundos próprios dos bancos. É necessário ainda, acima de tudo, melhorar a situação desses países, em especial reduzindo os desequilíbrios das balanças correntes no seio da zona euro de outra forma que não condenando os países deficitários à austeridade.
2.2 O TARGET2 confere um lugar preponderante aos países deficitários na criação monetária na zona euro?
Um segundo argumento desenvolvido por H. W. Sinn [1/6/2011] – o do “Kreditersatzpolitik” (substituição de créditos) – consiste na afirmação de que, no quadro do TARGET2, os créditos são concedidos a um país deficitário em detrimento de outros países da zona euro. Sinn refere: “Ano após ano, a moeda que sai dos PIGS para outros países da zona euro esgota tanto o stock do BCN desses países quanto os créditos que de outra forma teriam sido concedidos aos bancos comerciais desses países.” Aaron Tornell e Frank Westermann [28/9/2011] complementam esta argumentação sustentando que o TARGET2 confere aos países deficitários um papel importante na política monetária da zona euro, os quais, de certa forma, imporiam esta política monetária europeia aos países excedentários. Tornell e Westermann salientam que o valor dos títulos detidos pelo Bundesbank passou de 268 mil milhões de euros em Dezembro de 2007 para 21 mil milhões de euros em Outubro de 2011, enquanto os créditos sobre o sistema euro aumentaram em cerca de 400 mil milhões (de 98 mil milhões para 496 mil milhões de euros). Como os créditos dos bancos comerciais alemães no BCE aumentaram (em contrapartida do aumento dos créditos deste último sobre os BCN dos países periféricos), aqueles bancos sentem muito menor necessidade de se financiar junto do Bundesbank.
O aumento do endividamento de um banco central nacional no TARGET2 não implica no entanto que o BCE reduza os seus créditos a outro banco central nacional. O BCE controla, de facto, a taxa de juro na zona euro e é em função dessas taxas que “o stock de moeda de base e de crédito do BCE é determinado de forma endógena pelos bancos comerciais.” (Buiter et alii, 9/6/2011, p. 4). Da mesma forma, nada impede o BCN de um país de incrementar os créditos aos seus bancos comerciais no caso de essa necessidade se fazer sentir, mesmo que o excedente das contas exteriores dessa país forneça já liquidez ao sistema bancário.
Bindseil e König (Junho de 2011) recordam que, segundo as estimativas do Bundesbank, entre Dezembro de 2009 e Dezembro de 2010 as contribuições internas (créditos à economia) para o M2 e o M3 aumentaram respectivamente em 4,2% e 4,4%, apesar de um aumento dos créditos do Bundesbank sobre o TARGET2 de 83%. Por outro lado, se as autoridades monetárias europeias considerarem que o aumento de liquidez é excessivo, é normalmente suficiente aumentar as taxas de juro pagas aos bancos pelas reservas que estes depositam no BCE ou vender certificados de dívida, cuja aquisição pelos bancos permite absorver parte da moeda criada.
2.3 As dificuldades dos devedores TARGET2 podem-se transmitir aos seus credores?
Alguns autores salientam que os principais países credores estão ameaçados por uma perda de solvabilidade ou mesmo falência dos estados endividados. Nesse caso, os seus bancos comerciais ou o seu BCN terão de renunciar total ou parcialmente ao reembolso dos seus créditos. H. W. Sinn avalia as perdas do Bundesbank em 899 mil milhões de euros no caso de uma falência da Grécia, da Irlanda, de Itália, de Portugal e de Espanha, e em 1350 mil milhões de euros no caso de falência do sistema euro, ou seja, mais de 40% do PIB alemão (H. W. Sinn, 12/6/2012). Sinn (22/10/2012) acrescenta que uma agência de notação, a Moody’s, já tomou esse risco em conta ao colocar em perspectiva negativa o rating da Alemanha, da Holanda e do Luxemburgo, considerando, nomeadamente, os riscos inerentes aos seus créditos TARGET2.
De forma a analisar as possíveis consequências das dificuldades dos países do Sul sobre os países do Norte, coloquemo-nos no quadro das relações financeiras entre a Alemanha e o país do Sul cuja saída do euro é mais frequentemente considerada, a Grécia. Convém aqui distinguir se as dívidas são detidas por bancos comerciais alemães ou pelo Bundesbank. No primeiro caso, se um elevado número de títulos detidos por um banco comercial se desvalorizar ou se grandes devedores (Estado, empresas ou famílias) falirem, o banco pode ser levado à falência, pois terá de reembolsar ele mesmo os credores quando já não detém os activos correspondentes.
Na hipótese de uma saída do euro de uma Grécia incapaz de honrar as suas dívidas, é provável que os créditos dos bancos alemães sobre várias instituições gregas (bancos, empresas, etc.) percam boa parte do seu valor, seja na sequência da falência de uma parte dessas instituições ou de uma conversão dessas dívidas num dracma constrangido a uma forte depreciação.
Analisemos agora a situação do Bundesbank nessa mesma hipótese. À partida, no quadro do SEBC, as perdas de um banco central devido à insolvência de um estado parceiro não dependem da importância dos seus créditos sobre o SEBC. Um estudo do Bundesbank (2011) explica, assim, que “o custo destas perdas será repartido entre os bancos centrais nacionais em função da sua participação no capital do BCE. Dito de outra forma, o risco em que o Bundesbank incorre será o mesmo que o dos créditos sobre o SEBC, sejam eles do Bundesbank ou do banco central de outro país europeu.” É verdade que, no caso extremo de uma saída do euro de vários países-membros importantes (França, Itália, Espanha, por exemplo, para não falar de alguns pequenos países como a Grécia ou Portugal), a participação dos restantes membros aumentará consideravelmente.
Suponhamos mesmo uma implosão da zona euro. Legalmente, a saída do euro não elimina a dívida de um banco central. É portanto provável que boa parte deles queiram honrar as suas dívidas. No entanto, é necessário considerar que alguns devedores TARGET2 se verão na impossibilidade de reembolsar as suas dívidas. Irão eles por esse motivo “repudiá-las”, isto é, renunciar a qualquer reembolso (insolvência a 100%)? Será necessário, então, recear que os estados credores, por exemplo a Alemanha, se vejam forçados a recapitalizar o seu banco central recorrendo a medidas fiscais? (Ulrich e Lipponer, 2012, p. 74).
Este risco de falência dos devedores não se coloca nos mesmos termos para um banco central e para os bancos comerciais. O banco central poderá sempre reembolsar a dívida porque poderá sempre criar moeda (A. Grjebine 2012c). O Bundesbank irá simplesmente redenominar os activos correspondentes a esses créditos “desaparecidos” em novos DM, que poderá criar em quantidade suficiente para compensar essa perda teórica. Num sistema monetário fundado na confiança e, mais fundamentalmente, no poder de compra de uma moeda, o valor desta reflecte mais o seu papel como meio de troca do que a qualidade dos activos (stock de ouro, etc.) detidos pelo banco central. O poder de compra de uma moeda resulta do equilíbrio entre a quantidade de moeda emitida – ou seja, a sua oferta – e a sua procura, e afinal da confiança na economia de que essa moeda é a manifestação. O problema, portanto, é acima de tudo de contabilização. Um banco central não pode falir, a não ser que a maior parte das suas dívidas esteja denominada numa divisa estrangeira, especialmente se o valor desta se apreciar em relação à moeda nacional.
Com toda a probabilidade, o valor da moeda será menos que nunca avaliado pela qualidade dos activos do banco central. Karl Whelan (29/4/2012, p. 4) nota que para assegurar que no balanço do Bundesbank os activos sejam equivalentes aos compromissos, bastará que os dirigentes alemães solicitem ao Bundesbank passar ele mesmo um cheque igual ao valor dos créditos acordado[s] ao TARGET2 – e não recuperados – e de aumentar anualmente o seu activo pelo valor dos juros que esses créditos deveriam proporcionar. “A solvabilidade técnica do Bundesbank seria assim restabelecida sem recorrer a um aumento de impostos sobre os contribuintes alemães.”
Deste ponto de vista, a redução significativa dos créditos dos bancos alemães sobre os países periféricos da zona euro, os PIIGS, redução essa compensada por um aumento correspondente dos créditos sobre o TARGET2, deverá tranquilizar H. W. Sinn. Em 2007, os bancos alemães detinham créditos directos sobre os bancos dos países periféricos de mais de 800 mil milhões de euros. Em Março de 2012, esses créditos apenas (!) chegavam aos 400 mil milhões de euros (cf. anexo 1). Os excedentes TARGET2 detidos pelo Bundesbank sobre os PIIGS, pelo contrário, sendo negligenciáveis em 2007, quase alcançavam 600 mil milhões. Como lembram Sebastien Dullien e Mark Schieritz (7/5/2012), a transferência para o Bundesbank de parte dos créditos sobre países de risco como a Grécia detidos pelos bancos comerciais permitiu a estes “substituir créditos de risco sobre o estrangeiro por créditos sem risco domésticos”, na medida em que é previsível que o primeiro irá em qualquer caso honrar as suas dívidas aos bancos comerciais sedeados no seu território. O que lhes permite afirmar que “os depositários alemães deveriam aplaudir o crescimento dos balanços TARGET2”.
Gráfico 5. Créditos dos bancos alemães e créditos
TARGET2 do Bundesbank sobre os países periféricos
É verdade que o crescimento do saldo TARGET2 alemão não se explica apenas pelo repatriamento de créditos alemães. Também os residentes dos países periféricos colocaram uma parte cada vez maior dos seus fundos na Alemanha. O repatriamento de fundos alemães é, contudo, a maior componente do crescimento do saldo TARGET2 da Alemanha. Segundo S. Dullen e M. Schieritz, entre Agosto de 2008 e Janeiro de 2012, os bancos alemães reduziram os seus créditos sobre o resto da zona euro em 320 mil milhões de euros. Durante o mesmo período, o crédito líquido TARGET2 da Alemanha aumentou 390 mil milhões de euros.
Em que medida pode a compensação dos créditos em euros detidos pelo Bundesbank por uma emissão de novos DM ser inflacionista? Podemos começar por considerar que a confiança na nova moeda alemã levará à sua apreciação e desta forma a uma redução das exportações alemãs, podendo espoletar um efeito deflacionista. Porém, podemos também considerar que, prevendo esta apreciação do DM, muitos estrangeiros irão sentir-se tentados a colocar os seus activos na Alemanha. Será obviamente mais interessante converter euros em DM do que em pesetas ou dracmas. Estas conversões poderão ter um efeito inflacionista na Alemanha. Para o evitar, P. De Grauwe e Y. Ji (12/9/2012 e 18/9/2012) propõem limitar as possibilidades dos não-residentes de efectuar conversões em DM. O “especulador” espanhol que tenha transferido capital para a Alemanha, como no exemplo referido acima, seria desta forma incentivado a transferi-los de volta para Espanha, onde os poderia converter em pesetas com perspectivas evidentemente menos sedutoras. Analisando esta medida, H. W. Sinn (22/10/2012) chega à conclusão de que ela apenas poderia ser aplicável aos fluxos de capital “de última hora”, isto é, imediatamente antes da implosão do euro. Será razoável pensar que a Alemanha se decida a limitar a conversão da sua moeda por não-residentes? Não é possível conceber muito mais facilmente a aplicação de taxas de juro negativas aos detentores não-residentes de fundos denominados em marcos? Em qualquer dos casos, caberia ao Bundesbank determinar um justo equilíbrio entre o risco de deflação inerente a uma apreciação excessiva da sua moeda e o risco de inflação provocado pela conversão em marcos de um afluxo de capitais desencadeado pela eventualidade de uma implosão do euro.
Por fim, podemos interrogar-nos se a acumulação de uma grande quantidade de títulos de dívida públicos de países em dificuldade no balanço do BCE pode levar a uma substancial desvalorização do euro? Esta depreciação seria desde logo bem-vinda, sendo no entanto pouco provável manter-se sustentadamente, tendo em conta a própria composição da zona euro, em que países como a Alemanha ou a Holanda têm como vizinhos países mais débeis. Para além disso, existem poucas aplicações que ofereçam uma segurança comparável à da moeda europeia. Os Estados Unidos, o Reino Unido ou o Japão estão mais endividados que a zona euro.
2.4 Penalizar os países deficitários no TARGET2?
Em Fevereiro de 2012, o presidente do Bundesbank, Jens Weidmann, enviou uma carta ao presidente do BCE, Mario Draghi, manifestando a sua inquietação a propósito dos riscos causados pela decisão tomada pelo BCE em Dezembro de suavizar as regras das garantias que os bancos devem apresentar para poder aceder aos seus empréstimos. Weidmann chegou mesmo a sugerir que os créditos TARGET2 fossem “seguros”, isto é, garantidos por exemplo por propriedades ou outros activos gregos ou espanhóis! (Münchau, 4/3/2012).
Outros autores, também preocupados em evitar que os contribuintes dos países excedentários no TARGET2 tenham um dia de financiar os créditos malparados dos países insolventes, exortam a um sistema de sanções aos países cronicamente deficitários. Helmut Schlesinger, antigo presidente do Bundesbank, propõe a imputação de taxas de juro progressivamente mais elevadas aos países deficitários, a pagar aos países excedentários (citado por Sinn, 10/3/2012). Por seu lado, o grupo de peritos reunidos pelo CESifo, o European Economic Advisory Group, sugere a adopção de um sistema inspirado por aquele que, segundo esse grupo, funciona nos Estados Unidos (EEAG 2012) (cf. anexo 1). Preocupado em penalizar os estados persistentemente deficitários e em obrigá-los a combater vigorosamente o seu défice, o EEAG descarta a criação de um título de dívida europeu. Um título que oferecesse a mesma taxa de juro a todos os países da zona euro, independentemente da sua situação, iria efectivamente aniquilar os diferenciais de risco entre os empréstimos de uns e outros países e seria um incentivo a negligenciar os riscos específicos neste ou naquele país, acrescendo que iria favorecer uma má alocação de recursos no interior da zona euro. O relatório do EEAG salienta que mesmo os estados americanos não contraem empréstimos à mesma taxa e propõe, então, que cada estado da zona euro emita títulos do Tesouro de curto prazo garantidos por direitos prioritários sobre as receitas fiscais futuras ou por activos imobiliários detidos pelo Estado. Cada estado seria autorizado a emitir títulos deste tipo em termos de percentagem do seu PIB.
Na realidade, o modelo de penalização dos estados deficitários que existe nos Estados Unidos não é tão rigoroso como o EEAG sugere e, sobretudo, apenas é concebível porque é acompanhado por um sistema de transferências abrangente, através do orçamento federal, e pela mobilidade dos factores de produção, em especial devido à existência de uma língua comum.
Martin Wolf (16/2/2012) nota que estas transferências existem na zona euro, mas passam em boa medida pelo BCE. Assim, em Dezembro de 2011 o BCE colocou à disposição dos bancos 489 mil milhões de euros, a três anos e a uma taxa de juro de 1% (LTRO1 = Long-term Refinancing Operation). Esta operação (LTRO2) repetiu-se a 29 de Fevereiro de 2012, alcançando um valor de 530 mil milhões repartido entre perto de 800 bancos. Estes empréstimos vêm em parte substituir os créditos de curto prazo concedidos aos bancos comerciais à medida que estes se vão vencendo. Estas operações permitem ao BCE reduzir o risco de liquidez que paira sobre os bancos comerciais, sendo ao mesmo tempo um alívio aos estados mais endividados. O BCE espera igualmente que os bancos utilizem uma parte significativa dos empréstimos que lhes foram concedidos para aumentar o crédito concedido às empresas e particulares e favorecer desta forma a retoma do crescimento. À data de 30 de Março de 2012, o dispositivo de salvação inclui 500 mil milhões do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) e cerca de 300 mil milhões já atribuídos à Grécia, a Portugal e à Irlanda, sem contar com os 240 mil milhões que o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) ainda não utilizou. Ao contrário do FEEF, que dependia das garantias dos estados, o MEE dispõe de capitais próprios. Para além disso, a dívida do MEE permanece aí e não vem sobrecarregar a dos estados.
2.5 É possível limitar o TARGET2?
Ao invés de penalizar os países deficitários, alguns autores sugerem a limitação do TARGET2. H. W. Sinn (29/4/2011) salienta que “um limite deste género não eliminaria os défices das balanças correntes, mas iria reduzi-los aos fluxos de capital privado que os desejassem financiar”. U. Bindseil e P. J. König contestam que uma limitação deste tipo iria pôr em questão a própria existência da União Monetária Europeia (Bindsell e König, 2011, pp. 1, 25 e seg.; Jobst 19/7/2011). Esta, de facto, pressupõe que as transacções intra-europeias sejam tratadas como transacções dentro de um mesmo país, o que é exactamente o que diferencia uma união monetária de um conjunto de países cujas moedas estão ligadas entre elas por taxas de câmbio fixas. Para além disso, “´é provável que uma política deste tipo, ao ser anunciada previamente, conduza a uma fuga de capitais a partir dos países que se aproximem dos limitem que lhes tenham sido autorizados no TARGET2.” A adopção de uma política deste género levaria, segundo os autores, a uma zona euro limitada aos países estruturalmente excedentários, sendo as moedas dos países deficitários definidas em relação a essa zona, o que parece ser o verdadeiro projecto de Sinn.
Para além disso, a limitação do endividamento no TARGET2 seria uma restrição considerável do papel de emprestador de último recurso que o BCE deveria desempenhar. Uma limitação do TARGET2 implicaria, com efeito, a incapacidade de o BCE intervir de forma ilimitada, directa ou indirectamente, para salvar um banco comercial ou um estado da bancarrota. Ora, um sistema de seguro – o que é o caso de um banco central que desempenhe o papel de emprestador de último recurso – é tanto mais eficaz e necessita tanto menos de intervir para demonstrar essa eficácia quanto todos sabem que ela o fará em caso de necessidade. Se o BCE se tivesse revelado menos cauteloso e tivesse anunciado, quando da origem da crise, que iria adquirir títulos de dívida pública da zona euro sem limites de valor nem de duração, teria garantido de facto essas dívidas e os investidores tê-las-iam adquirido sem que o BCE tivesse efectivamente de intervir. O BCE anunciou a 6 de Setembro de 2012 que iria, de forma ilimitada, recomprar créditos de Estado no mercado para terminar com a especulação e estancar a subida em flecha das taxas de juro dos países em dificuldade. O BCE explicitou no entanto que as suas intervenções serão condicionadas pela aplicação pelo país beneficiário de um plano de saneamento financeiro ditado pelo Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF). O que acontecerá se o país, tendo em conta a sua situação, não conseguir cumprir essas exigências? Se o BCE interromper as intervenções que faz em seu benefício, ficará provavelmente sob ameaça de falência e terá, sem dúvida, de abandonar precipitadamente a zona euro, com as previsíveis consequências em cadeia para os outros países. Se, apesar de tudo, o BCE prosseguir as suas operações, ignorando aquela condicionalidade, é possível imaginar os receios e a agitação que essa linha de acção irá suscitar na Alemanha.
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Source text - French Du livre au web : de l’édition électronique à la « web édition »
Voilà longtemps que le développeur et designer Craig Mod réfléchit au basculement de l'édition à l'édition web. Dans un essai publié en 2010, Les livres à l'âge de l'iPad, il expliquait déjà que "Dans les livres imprimés, la propagation de la double page du livre a été notre toile. Il est facile de penser de même à propos de l'iPad. Il ne faut pas. La toile de l'iPad doit être considérée d'une manière qui reconnaisse les limites physiques de l'appareil, tout en embrassant l'illimité efficacité de ce nouvel espace. Nous allons voir de nouvelles formes de narration se dégager de cette nouvelle toile. C'est une occasion de redéfinir des modes de conversation entre le lecteur et le contenu."
Quand le livre retourne au web
En octobre 2012, prolongeant sa réflexion, il expliquait pour CNN comment les magazines seront à jamais transformés par l'iPad. En devant électronique, expliquait-il, les magazines perdent leurs frontières et leurs sommets. En papier, les livres et les magazines avaient un début et une fin et offraient à leurs lecteurs un sentiment de complétude, que le lecteur ne retrouve pas avec l'électronique, car il ne voit pas comment ils se terminent, c'est-à-dire ni où termine le volume, ni où se termine la page.
Citant Ted Nelson, l'inventeur du terme hypertexte, il évoque un autre néologisme de Nelson pour exprimer cette confusion nouvelle du passage de la page à l'écran, l'intertwingularity, c'est-à-dire l'interconnexion des connaissances qui ne peut se diviser d'une manière parfaitement ordonnée. Pour Nelson, "les structures hiérarchiques et séquentielles, particulièrement populaires depuis Gutenberg, sont généralement forcées et artificielles". L'interconnexion de tout, leur remixage, leurs référencements croisés, ne peuvent se résumer à une hiérarchie unique, comme nous le proposait le livre. C'est cette intertwingularity qui rend la navigation dans le contenu numérique si stressante (mais certainement aussi si stimulante). "Si nous avons inventé les écrans, c’est certainement parce que le support du livre ne suffisait pas à satisfaire nos attentes", reconnaissait avec raison le psychiatre et psychanalyste Serge Tisseron dans un très stimulante mise en parallèle de la culture des livres et de la culture des écrans.
Cette manière dont Craig Mod évoque la finitude des contenus et leur matérialisation est un moyen de nous faire comprendre la différence entre un magazine et l'application d'un magazine, entre un livre et son double numérique. Comme le souligne le développeur et designer dans son manifeste sur la Publication Subcompacte. Pour comprendre ces nouvelles formes d'édition, Mod nous invite à observer deux publications exemplaires : The Magazine et Matter. Des publications qui ne sont ni un site web, ni un magazine, ni un livre...
Image : la publication subcompacte de The Magazine, vue par Craig Mod.
Ces exemples montrent ce qu'il se passe quand on tente de dépasser le skeuomorphisme et l'homothétie que nous évoquions précédemment. Ici, l'éditeur part de son savoir-faire éditorial, mais propose une forme et un modèle de distribution adapté au numérique, accessible à la fois en ligne et sous forme d'applications.
Ces publications "subcompactes" comme il les appelle, répondent à un ensemble de qualités simples : ce sont de petites publications, avec des fichiers de petite taille, des prix adaptés, un calendrier de publication fluide, où l'on scroll les articles, qui proposent une navigation claire, basée sur du HTML, et compatible avec le web ouvert (c'est-à-dire indexables et accessibles en ligne et pas seulement sous forme d'applications). "The Magazine est en effet moins coûteux, plus simple, plus petit et plus pratique que la plupart des applications existantes."
Ce que montrent ces deux exemples, c'est que, contrairement à ce que nous ont fait croire les magasins de livres électroniques fermés d'Amazon ou Apple, la publication ne peut pas se passer du web. Pour conquérir de nouveaux publics, la publication ne peut se réfugier uniquement dans des écosystèmes fermés sur le livre comme le proposent les magasins d'Apple, d'Amazon ou Google... Elle ne peut se couper du web, y être inaccessible. Au contraire. Elle a besoin de diversifier ses "modes d'existence", d'être cherchable, trouvable, accessible... et bien sûr, trouver de nouvelles formes de revenus... en ligne
De nouvelles formes de magazines ou de nouvelles formes de financement ?
Face aux difficultés à venir d'élargissement des publics, nombreux sont ceux qui réfléchissent à élargir leurs business modèles en ligne, au moins pour se donner d'autres perspectives. Pour PaidContent, Laura Hazard Owen évoquait récemment quelques startups éditoriales à surveiller, dont 3 étaient justement des plateformes pour créer des magazines sur tous supports : comme Periodical, Creatavist et 29th Street Publishing.
Image : Periodical, exemple de plateforme subcompacte.
En parallèle à ces plateformes, des systèmes de murs payants ou des solutions de micropaiements se simplifient et se démocratisent, permettant justement à de petits acteurs de les implémenter. Parmi ces nouveaux acteurs, il y a bien sûr Google Wallet qui vise à faciliter les micropaiements (voir notamment les expérimentations que Google a lancées permettant d'acheter pour quelques centimes et très simplement un article et le rendent partiellement innaccessible autrement). Google Wallet va élargir les possibilités de micropaiement en permettant par exemple d'attacher de l'argent à ses e-mails, comme l'expliquait Olivier Ertzscheid.
Image : Comment Google Wallet vous incite à acheter un article... après vous en avoir donné un aperçu ou le début.
Mais il y a d'autres solutions, par exemple TinyPass ou Press qu'évoquait PaidContent dans un autre article. Quelques blogueurs américains ont franchit le pas, comme le célèbre blogueur politique Andrew Sullivan qui en 6 mois a réussi à réunir 26 000 souscripteurs payants et 715 000 $ et est en passe de réussir son pari. Bien sûr, tout le monde n'a pas sa célébrité, mais son exemple montre néanmoins que d'autres formes de financement sont possibles et que les démultiplier est en tout cas toujours plus intéressant que de faire reposer son modèle économique sur une seule solution voir trop peu d'opérateurs.
A sa manière le projet de web édition de Publie.net cherche également de nouvelles formes de financement en ligne en proposant pour le prix de l'abonnement annuel au catalogue de livres électroniques de Publie.net d'accéder à un magazine en ligne - Nerval.fr - et à certains sites et contenus web, notamment certains contenus du site de François Bon, le Tiers Livre (voir ses explications sur ce projet). Bien sûr, dans le cadre de cette expérience - comme dans le cadre de bien des autres évoquées - la valorisation demeure symbolique. Mais il me semble qu'on est bien en présence d'une bascule de l'édition vers le web.
Image : Nerval, le magazine au format web edition de Publie.net.
Les formes de monétisations demeurent bien le nerf de la guerre. Le reportage multimédia du New York Times, Snow Fall a certes été un succès d'audience et d'estime (plus de 3 millions de visiteurs, passant en moyenne 12 minutes sur le projet), mais il ne l'a pas été en matière de monétisation, comme le soulignait Marie-Catherine Beuth. Car toute la difficulté repose à la fois sur la possibilité d'accéder et de limiter l'accès, de rendre le contenu disponible, mais également indisponible pour que les gens paient pour y accéder pleinement.
On ne n'explora pas de nouveaux formats sans poser la question de leur rentabilité et donc sans explorer de nouvelles formes de monétisation. En fait, si la web édition devient envisageable, ce n'est pas parce que les outils de publication sont accessibles (ils le sont depuis longtemps), mais c'est parce que des perspectives de monétisation semblent devenir enfin possibles. Si l'édition électronique se tourne vers la web édition, c'est certes pour conquérir des publics, pour devenir plus accessible..., mais aussi pour trouver de nouvelles formes de débouchés, même si pour beaucoup d'expériences, on en est encore loin.
Do livro à web: da edição electrónica à “web edition”
Já há muito tempo que o programador e desenhador Craig Mod reflecte sobre mudança de direcção da edição para a edição web. Num ensaio publicado em 2010, Os livros na era do iPad, já tinha explicado que “Nos livros impressos, a dimensão da página dupla do livro foi o nosso écran. É fácil pensar o mesmo acerca do iPad. Não devemos fazê-lo. O écran do iPad deve ser considerada de uma forma que reconheça os limites físicos do aparelho e que ao mesmo tempo utilize a eficácia ilimitada deste novo espaço. Vamos ver novas formas de narrativa a desenvolver-se nesse novo écran. É uma ocasião para redefinir as formas de diálogo entre o leitor e o conteúdo.”
Quando o livro regressa à web
Em Outubro de 2012, prolongando esta reflexão, explicou à CNN como as revistas vão ser para sempre transformadas pelo iPad. Tornando-se electrónicas, explicava, as revistas perdem as suas fronteiras e os seus limites físicos. Em papel, os livros e as revistas tinham um princípio e um fim e faziam os seus leitores senti-los completos, coisa que o leitor não encontra no formato electrónico porque não vê como terminam, ou seja, nem onde termina o volume nem onde termina a página.
Citando Ted Nelson, o inventor do termo hipertexto, Craig Mod lembra um outro neologismo de Nelson para exprimir esta nova confusão de passar da página para ao écran, a entrelaçaridade , ou seja a interligação de conhecimentos que não se pode separar com uma ordem perfeita. Para Nelson, “as estruturas hierárquicas e sequenciais, particularmente populares desde Gutenberg, são geralmente forçadas e artificiais”. A interligação de tudo isto, a sua remistura, as suas referências cruzadas, não podem resumir-se a uma hierarquia única como a que o livro nos apresenta. É essa entrelaçaridade que faz com que a navegação no conteúdo digital seja tão esgotante (mas seguramente também tão estimulante). “Se inventámos os écrans foi, seguramente, porque o suporte livro não era suficiente para satisfazer as nossas expectativas”, reconhecia com razão o psiquiatra e psicanalista Serge Tisseron num paralelismo muito interessante entre a cultura dos livros e a cultura dos écrans.
Esta forma como Craig Mod fala dos limites dos conteúdos e da sua materialização é uma maneira de nos fazer compreender a diferença entre uma revista e a aplicação de uma revista, entre um livro e o seu duplo digital. Como salienta o programador e designer no seu manifesto sobre a Publicação Subcompacta. Para compreender estas novas formas de edição, Mod convida-nos a observar duas publicações exemplares: The Magazine e Matter. Publicações que não são nem uma página web, nem uma revista, nem um livro…
Imagem: a publicação subcompacta de The Magazine, vista por Craig Mod
Estes exemplos mostram o que acontece quando se tenta ultrapassar o skeuomorfismo e a homotetia a que já aludimos antes. Aqui, o editor parte do seu conhecimento editorial, mas apresenta uma forma e um modelo de distribuição adaptado ao digital, acessível quer online quer sob a forma de aplicações.
Estas publicações “subcompactas”, como lhes chama, possuem um conjunto de qualidades simples: são publicações pequenas, com ficheiros de pequena dimensão, preços adaptados em função disso, um calendário de publicação flexível, onde fazemos scroll nos artigos, que apresentam uma navegação clara, baseada em HTML, e compatível com a web aberta (ou seja, indexáveis e acessíveis online e não apenas na forma de aplicações). “The Magazine é, com efeito, mais barata, mais simples, mais pequena e mais prática que a maior parte das aplicações existentes”.
O que estes dois exemplos mostram é que, contrariamente ao que nos fizeram acreditar as lojas de livros electrónicos fechadas como a Amazon ou a Apple, a publicação não pode passar sem o elemento web. Para conquistar novos públicos, a publicação não se pode refugiar unicamente em ecossistemas fechados sobre o livro como propõem as lojas da Apple, da Amazon ou do Google… Não se pode separar da web, não ser acessível na web. Pelo contrário. Tem necessidade de diversificar os seus “modos de ser”, de ser pesquisável, encontrável, acessível… e claro encontrar novas formas de receitas online.
Novos formatos de revistas ou novas formas de financiamento?
Face às dificuldades que aí vêm quanto ao aumento dos públicos, são muitos os que pensam em alargar os seus business modelos online, pelo menos para ganharem outras opções. Laura Hazard mencionou recentemente ao PaidContent algumas startups editoriais a seguir, 3 das quais eram precisamente plataformas para criar revistas em todos os suportes: como o Periodical, o Creatavist e o 29th Street Publishing.
Imagem: Periodical, exemplo de plataforma subcompacta
Em paralelo a estas plataformas, sistemas de acesso pago a conteúdos ou soluções de micropagamentos vão-se simplificando e democratizando, permitindo a sua implementação, exactamente, por pequenos actores. Entre esses novos actores está, claro, o Google Wallet, que pretende facilitar os micropagamentos (ver nomeadamente as experiências lançadas pela Google que permitem comprar por alguns cêntimos e de forma muito simples um artigo e que o tornam parcialmente inacessível de outra forma). O Google Wallet irá alargar as possibilidades de micropagamento permitindo por exemplo anexar dinheiro aos e-mails, como explica Olivier Ertzscheid.
Imagem: A forma como o Google Wallet incita a comprar um artigo… depois de mostrar uma pré-visualização ou o seu início.
Mas há outras soluções, por exemplo o TinyPass ou o Press , mencionados pelo PaidContent num outro artigo. Alguns bloggers americanos deram esse passo, como o célebre blogger político Andrew Sullivan, que em 6 meses conseguiu 26.000 subscritores pagos e 715.000 dólares, e está a caminho do sucesso nesta aposta. Obviamente que nem todos têm a sua celebridade, mas o seu exemplo mostra que apesar de tudo outras formas de financiamento são possíveis e que de qualquer maneira multiplica-las é sempre mais interessante que fazer depender o modelo económico de uma única solução ou mesmo de um número reduzido de operadores.
À sua maneira, o projecto de edição web da Publie.net procura igualmente obter novas formas de financiamento online, oferecendo pelo preço de uma subscrição anual do catálogo de livros electrónicos da Publie.net o acesso a uma revista online – Nerval.fr – e a determinadas páginas e conteúdos web, nomeadamente alguns conteúdos da página de François Bon, o Tiers Livre (ver as suas explicações sobre este projecto). Claro que, dentro desta experiência – como em boa parte das restantes experiências mencionadas – a valorização ainda é simbólica. Mas parece-me que estamos de facto na presença de uma mudança de direcção da edição para o suporte web.
Imagem: Nerval, a revista em formato edição web da Publie.net
As formas de pagamento continuam sem dúvida a ser o cerne da questão. A reportagem multimédia do New York Times, Snow Fall, pode ter sido um sucesso de audiência e de elogios (mais de 3 milhões de visitantes, que passaram em média 12 minutos no projecto), mas não o foi em termos de pagamentos, como sublinhou Marie-Catherine Beuth. Porque toda a dificuldade é como tornar acessível e ao mesmo tempo limitar o acesso, tornar o conteúdo disponível, mas ao mesmo tempo indisponível para que os visitantes paguem para aceder a todo o conteúdo.
Não se vão explorar novos formatos sem pôr a questão da sua rentabilidade e, logo, sem explorar novas formas de pagamento. De facto, a edição web não se torna desejável porque os instrumentos de publicação estejam acessíveis (já o estão há muito tempo), mas porque há formas de pagamento que parecem tornar-se finalmente possíveis. É claro que a edição electrónica se vira para a edição web para conquistar públicos, para se tornar mais acessível… mas também para encontrar novas formas de mercado, mesmo se muitas das experiências ainda estão longe disso.
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Translation education
Master's degree - Faculdade de Letras - Universidade do Porto
Experience
Years of experience: 11. Registered at ProZ.com: May 2013.
English (University of Cambridge, verified) English to Portuguese (Universidade do Porto, verified) French to Portuguese (Universidade do Porto, verified) Portuguese to French (Universidade do Porto, verified) Portuguese to English (Universidade do Porto, verified)
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N/A
Software
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I have concluded a Master's Program in Translation in Universidade do Porto, on behalf of which I have recently done a traineeship in the Translation department of the European Commission in Brussels. My grades, my selection for this post and the experience I am gathering speak for themselves on my qualities and expertise, however I am also deeply committed to show my worth and build long-lasting, trustful and fruitful work partnerships.
I also hold a Degree in Economics as well - an area where I have some previous work experience, as my CV also shows - hence I specialize in documents in the Economics or Financial fields, which of course does not mean that I do not translate other types of documents with the same ease and overall quality.
You will find me a highly reliable, competent and motivated translator, with whom I am sure you will find yourselves very happy to keep working with.
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