This site uses cookies.
Some of these cookies are essential to the operation of the site,
while others help to improve your experience by providing insights into how the site is being used.
For more information, please see the ProZ.com privacy policy.
Freelance translator and/or interpreter, Verified site user
Data security
This person has a SecurePRO™ card. Because this person is not a ProZ.com Plus subscriber, to view his or her SecurePRO™ card you must be a ProZ.com Business member or Plus subscriber.
Affiliations
This person is not affiliated with any business or Blue Board record at ProZ.com.
English to Spanish - Rates: 0.06 - 0.09 USD per word / 35 - 45 USD per hour Portuguese to Spanish - Rates: 0.06 - 0.09 USD per word / 35 - 45 USD per hour Spanish to English - Rates: 0.06 - 0.09 USD per word / 35 - 45 USD per hour Portuguese to English - Rates: 0.07 - 0.10 USD per word / 35 - 45 USD per hour
Portuguese to Spanish: Cartas a Tereza - Deisiane Barbosa Detailed field: Poetry & Literature
Source text - Portuguese CARTAS A TEREZA
DEISIANE BARBOSA
14 de setembro,
hoje a casa amanheceu despojada das suas janelas, Tereza. os sons e as luzes de fora rebateram estalados em minha alma desforrada. despertei no centro do vão, encolhida, num esforço de ignorar toda aquela agudeza, temi abrir os olhos. a princípio intuí... só depois fui remontando
foi ontem, aportando entre as paredes bambas, na madrugada já baixa, após o sobressalto do primeiro sono pesado, que enfim atinei à palidez das janelas idas. imediatamente engrossei a vista, cerrei de novo os olhos, adormeci abruptamente na ânsia de desfazer aquele sonho desfigurado.
onde será que foram parar as tramelas do meu recolhimento diário?
a minha primeira e mais firme hipótese secreta: talvez o meu avô, naquele seu rojão paciente, houvesse penhorado os olhos da casa. talvez fosse ele, a fim de que o inverno partisse mais depressa, saciado que ficaria do resquício de calor dos nossos vãos. não o acuso. não o condeno.
às vezes ele revela os seus pensamentos. depois de tardes inteiras, dias, ou até semanas num silêncio moderado, ele sempre revela uma fração que denuncia o que andou refletindo. em suas mais recentes teorias, deduziu que este inverno viera, assim tão forte, no intuito de despregá-lo definitivamente da casa, levando-o para outras naturezas mais tênues – isso ele disse apenas quando não mais aguentou guardar as palavras, foi numa noite muito fria e ele dormia na sala, sentado, notando todo o vento que assaltava a casa na escuridão.
na arrumação vagarosa da sua bagagem, meu avô provocou o despregar misterioso das janelas da casa. isto eu não lhe disse, mas ele conhecia a minha perspicácia. talvez ele – que também sabia ser resignado – houvesse firmado um acordo com o inverno. uma espécie de permuta, hipoteca, uma espécie de escambo. eu não sei bem... você sabe no que consistem os interesses do inverno, Tereza?
*
do quarto ouço um suspiro carregado – seriam 23 horas? as telhas, que por anos dormiram quietas, também iniciam um despertar progressivo e almejam voar pelos ares turbulentos.
de hora em hora a casa estilhaça um pequeno rangido, rouqueja um dialeto incompatível aos ouvidos dispersos – é que nem todas as coisas sabem morrer em silêncio, Tereza. a casa já não é a mesma – já não somos. vão restando memórias que escalam a poeira das paredes de minha infância. vão se incrustando nos cantos do chão de tijolos as lembranças remanejadas.
a casa exige, calada, uma vida que vai se escasseando.
a casa, esse chão áspero, recebe os pés inchados do meu avô. seus derradeiros passos reduzidos ao minúsculo atrito. o corpo descalço, cambaleando pequenos trechos, vai rabiscando os últimos vestígios de sua presença. o corpo anestesiado vai transitando um percurso restrito dentro da casa que o engole – em outros tempos era ele quem a consumava, em outros tempos foram seus próprios braços que ergueram as paredes.
mas então já não há remédio, ele a deixa – esta casa que o engole. pouco a pouco partes de si vão partindo esquecidas. lá se foram janelas, telhas, passos, passados...
(...)
21 de fevereiro,
não parece engraçado, Tereza, o modo como giramos na palma dos dias, contornando incansavelmente o umbigo do tempo? – o ego do tempo roto, as suas ditaduras particulares. a gente já nem sabe mais a quem obedece. a gente num redemoinho entontece e desmaia. e ao acordar percebe que não morreu e continua a girar in.can.sa.vel.men.te / a gente tenta escapar, mas não há remédio que haja ao tempo e aos nós com os quais nos ata as mãos, cabeça e pés.
eis a maior das nossas afinidades: servimos cegamente a um carrossel.
(...)
02 de agosto,
numa manhã de inverno ensolarado, atravessei o percurso de um besouro distraído. pelo caminho amanhecido das oito horas fui pedalando os meus pensamentos na visão do pasto.
meu avô cochilava na sala, em meio à frieza da casa, levantou, saiu e cochilou a cadeira no sol do terreiro. uma mescla de sol e vento no umbigo daquele dia ainda sonolento. era manhã de sexta-feira e as coisas, me parece, tardavam despertar ao todo. o verdume do mato não capinado que domesticava a cerca, a galinha investigando a terra à procura dos seus ovos de ouro, um assovio de pássaro escondido na amendoeira. tudo isso se espreguiçava numa lentidão mascarada. varri os quatro cantos do dia e não via palavras para prender aquilo tudo, Tereza.
o meu avô, recolhido do sol, perdido nos dias da semana, desejou um dia livre de dores. decerto havia remédio mais forte no mundo. havia de ter um remédio que fizesse esquecer – o esquecimento é cura? não, Tereza, eu não afirmo quase nada do que digo...
hoje eu desviei a rota de um besouro que se chocou em minha têmpora poética e caiu no chão, desacordado. – o tombo no pensamento alheio – quais mudanças eu teria arrastado à vida do besouro quando me meti em seu caminho? Tereza, a vida está grande demais para que eu consiga tocar toda a sua extensão. não sei esvaziar, não suporto o vazio. não sei modelar o que eu sei que as minhas mãos são capazes. Tereza, a vida me pede demais os meus cuidados e eu não sei se consigo olhar para tantos lugares. e os dias passam tal como o besouro apressado – não me peça, agora, para eu te descrever com minúcias o que tenho feito dos meus últimos dias...
um avião passa olhando. tudo ao meu redor passa olhando. os meus olhos nasceram para os fios dos postes e a ferrugem nos arames do pasto. eu capto retratos quando corro em urgência na bicicleta que o meu avô pedalava a sua paciência de vida. queria contá-lo dos meus olhares, narrar a vida que eu vejo passar.
nove horas entrego-lhe um remédio para ludibriar momentaneamente a sua dor. transpasso à caneca rasa de água o meu impulso de querer a vida até o seu último grão
13 de maio,
tudo passará, Tereza
– não sei se faço disso a minha paz
ou o meu desespero maior...
* *
(Trechos do livro “cartas à Tereza: fragmentos de uma correspondência incompleta”, publicado em 2015, em Cachoeira/BA, numa edição independente.)
Translation - Spanish CARTAS A TEREZA
DEISIANE BARBOSA
14 de septiembre,
hoy la casa amaneció despojada de sus ventanas, Tereza. los ruidos y la luz de afuera se arremolinaron fragmentados en mi alma desforrada. desperté en la mitad del pasillo, encogida; en un esfuerzo por ignorar toda esa estridencia, temí abrir los ojos. al principio lo intuí... solo después fui atando cabos.
fue ayer, navegando entre las paredes flojas, ya el final de la madrugada, luego del sobresalto del primer sueño pesado, que finalmente caí en cuenta de la palidez de las ventanas idas. inmediatamente hice la vista gorda, volví a cerrar los ojos y me adormecí abruptamente en el ansia de deshacer ese sueño desfigurado.
¿a dónde habrán ido a parar los pliegues de mi recogimiento diario?
mi primera y más firme hipótesis secreta: tal vez mi abuelo, en medio de ese furor paciente suyo, hubiera empeñado los ojos de la casa. tal vez fue él, para que el invierno se fuera más rápido, saciado del resquicio de calor de nuestros pasillos.
no lo acuso, no lo condeno.
a veces revela sus pensamientos. luego de tardes enteras, días o hasta semanas en un silencio moderado, él siempre revela una fracción que denuncia lo que andaba cavilando. en sus más recientes teorías dedujo que este invierno vendría, así de fuerte, con el propósito de arrancarlo definitivamente de la casa, llevándolo a otras naturalezas más tenues —fue lo que dijo solo cuando ya no aguantó más guardar las palabras; era una noche muy fría y dormía en la sala, sentado, contemplando todo el viento que asaltaba la casa en la oscuridad.
En el lento arreglo de su equipaje, mi abuelo provocó el misterioso despegue de las ventanas de la casa. eso no se lo dije, pero él conocía mi perspicacia. Tal vez él —que también sabía ser resignado— hubiera firmado un acuerdo con el invierno, una especie de permuta, hipoteca, alguna especie de trueque, no sé bien... ¿tú sabes en qué consisten los intereses del invierno, Tereza?
*
del cuarto oigo un suspiro cargado —¿serían las 11 de la noche? Las tejas, que por años durmieron quietas, inician también un despertar progresivo y anhelan volar por los aires turbulentos.
de hora en hora la casa desgaja un pequeño chirrido, ronca un dialecto incompatible con los oídos dispersos —es que ni las cosas saben morir calladas, Tereza. la casa ya no es la misma —ya no somos. van quedando memorias que asaltan las paredes de mi infancia. se van incrustando en los cantos del piso de ladrillo los recuerdos retocados.
la casa exige, callada, una vida que ya va escaseando.
la casa, ese piso áspero, recibe los pies hinchados de mi abuelo. sus últimos pasos reducidos a la minúscula fricción. el cuerpo descalzo, tambaleando a pequeños trechos, va garabateando los últimos vestigios de su presencia. el cuerpo anestesiado va transitando un sendero restringido dentro de la casa que lo engulle —en otros tiempos era él quien la consumía, en otros tiempos fueron sus propios brazos lo que irguieron las paredes.
Pero entonces ya no hay remedio, él la deja —esta casa que lo engulle. poco a poco partes de sí van partiendo olvidadas. Allá se fueron las ventanas, tejas, pasos, pasados...
(...)
21 de febrero,
¿no te parece gracioso, Tereza, el modo en que giramos en la palma de los días, contorneando incansablemente el ombligo del tiempo? —el ego del tiempo roto, sus dictaduras particulares. uno ya no sabe más a quién obedece. En un remolino uno se aturde y se desmaya. Y al despertar percibe que no murió y sigue girando in.can.sa.ble.men.te / uno intenta escapar, pero no hay remedio para el tiempo y los nudos con los que nos ata las manos, cabeza y pies.
he ahí la mayor de nuestras afinidades: servimos ciegamente a un carrusel.
(...)
02 de agosto,
[en] una mañana soleada de invierno crucé la trayectoria de un escarabajo distraído. por el camino ya amanecido de las ocho fui dándole manivela a mis pensamientos en la visión del pasto.
mi abuelo dormitaba en la sala, en medio de la gelidez de la casa, se levantó, salió a tomar una siesta al sol del solar. una mezcla de sol y viento en el ombligo de aquel día aún soñoliento. era mañana de viernes y las cosas, me parece, tardaban en despertar del todo. El verdor del monte crecido que domesticaba la cerca, la gallina investigando la tierra en busca de sus huevos de oro, un silbido de pájaro escondido en el almendro. Todo ello se desperezaba en una lentitud enmascarada. barrí las cuatro esquinas del día y no veía palabras para aprehender todo aquello, Tereza.
mi abuelo, vuelto del sol, perdido en los días de la semana, deseó un día libre de dolores. Ciertamente había remedios más fuertes en el mundo. Debería haber un remedio que hiciera olvidar —¿el olvido es cura? no, Tereza, no sostengo nada de lo que digo…
hoy desvié la ruta de un escarabajo que chocó contra mi temporal poético y cayó al suelo, desmayado. —la caída en el pensamiento ajeno— ¿qué cambios habría yo causado en la vida del escarabajo cuando me metí en su camino? Tereza, la vida es demasiado vasta para que yo logre tocar toda su extensión. No sé vaciar, no soporto el vacío. no sé modelar lo que sé de lo que mis manos son capaces. Tereza, la vida me pide demasiado mis cuidados y no sé si consiga mirar para tantos lugares. y los días pasan tal como el escarabajo preso —no me pidas ahora que te describa con minucias lo que he hecho de mis últimos días…
un avión pasa mirando. todo a mi alrededor pasa mirando. mis ojos nacieron para los hilos de los postes y el óxido en los alambres del pasto. capto
retratos cuando corro urgida en la bicicleta que pedaleaba mi abuelo a su paciencia de vida. Quisiera contarlo de mis vistas, narrar la vida que veo pasar.
a las nueve le entrego un remedio para engañar momentáneamente su dolor. Traspaso a la jarrita rasa de agua mi impulso de querer la vida hasta el último grano.
13 de mayo
todo pasará, Tereza
—no sé si hago de esto mi paz
O mi mayor desespero...
* *
(fragmentos del libro “cartas a Tereza: fragmentos de una correspondencia incompleta”, publicado en 2015, en Cachoeira, Bahia, en una edición independiente.)
More
Less
Translation education
Other - SFSU
Experience
Years of experience: 46. Registered at ProZ.com: Sep 2001.
Stay up to date on what is happening in the language industry
Buy or learn new work-related software
Network with other language professionals
Get help with terminology and resources
Get help on technical issues / improve my technical skills
Bio
Born in the USA, educated in Chile, Mexico, Colombia, US, and Brazil.
International agencies (UN, WB, IMF), legal, technical, social, prose, editing, proofreading. Simultaneous interpreting. 40 years of experience. Grader for ATA's Accreditation Program, 1981-87 English>Spanish. Official Translator/Interpreter E<>S, Colombian Government. California Certified Court Interpreter. Founder of ACTTI, Colombian Association of Translators, Terminologists and Interpreters, and SEA, Spanish Editors Association in the US.
Brought up in US, Mexico, Colombia, Chile
Lived 7 years in Brazil
8 years as a Court Interpreter in the US
Remote Simultaneous Interpreter since 1979
Keywords: UN work, contract law, social sciences, mechanics, electronics, copywriting, prose, editing, proofreading, physics. See more.UN work, contract law, social sciences, mechanics, electronics, copywriting, prose, editing, proofreading, physics, anthropology, simultaneous interpreting
Spanish Editing. See less.